quarta-feira, 21 de abril de 2010

Selvagem e Primitivo....

"Selvagem e primitivo..."

Mas como raio pôde ele dar como adquirido que ela quer sexo "primitivo e selvagem"?... "Atrevido" é a palavra que lhe assalta o léxico da compreensão das poucas sms que trocaram.

“Sexo primitivo e selvagem”. Deitou-se e acordou com a expressão e com a idealização em imagens dos comportamentos, dos enlaces, dos gestos de um fim-de-tarde de sexo primitivo e selvagem.

Quedou-se a observar o seu corpo enquanto a água quente disparada do chuveiro acordava cada poro da sua pele recém acordada. Normalmente, a rotina e a vulgaridade retiram a este ritual do banho a contemplação do corpo. Os minutos são escassos e o dia começa sempre a correr.

Mas não nessa manhã. Colocou no “puff” o gel de algas, cremoso e de aroma fresco e, sorrindo, transfigurou o puff e o gel em mãos e polpa de dedos e percorreu o seu corpo, molhado, quente, acordado, vivo e reactivo… (“sexo primitivo e selvagem” … mas porquê assim?) …

A partir daí, o mais banal objecto que percorresse as suas curvas acentuadas de mulher era imaginado como mãos, braços, lábios… e sorria da sua viagem conduzida pelos desejos.

Cremes e perfumes e outras fragrâncias usuais e veste-se. O vestido de malha, largo e justo nas medidas exactas, e os collants pretos de ligas não foram escolhas inocentes, inócuas, vazias de sentires. Domina ainda a força do desejo e, desta vez, o desejo de que, por arte das circunstâncias, ele lhe aparecesse no trabalho (“selvagem” encerra em si o inesperado e o incontrolável).

Saiu à rua segura de que o passeio e a estrada tinham traçado caminhos só para ela, de tal sorte que caminhar e conduzir eram gestos autómatos…

“Selvagem e primitivo”… como música que fica gravada e repetidamente surpreende a rotina…

Entregue a esse doce estado de hipnose, não poderia adivinhar o que o dia lhe reservara…

1 comentário:

  1. Feiticeirinha,
    SIMPLESMENTE BELO, é o que me ocorre dizer neste momento, sobre o teu texto.

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