terça-feira, 20 de abril de 2010

Loucura em livro reflectida em Loucura real ... (à falta de melhor ou mais inspirado título)

Convenço-me de que, afinal, reclamar o estatuto de mulher é grito esvaído de som ou eco.

Uma vez postergada a Razão, alada no dorso do Silêncio, uma vez acordados os sentires do leito em que serenavam, danço as melodias da vida, num mundo só fantasiado pela inocência de uma criança… Tão embriagada pela novidade do momento já tantas vezes vivido, trôpega na imensidão de cores que me pintam os cenários, não vejo que estou sozinha…

Sim, sinto-me só depois do acordar...

Apesar do quanto me rodeia, do quanto me querem, do quanto preencho, há silêncios, clausuras, recolhimentos que me arrumam na Solidão, mundo onde não se percebe outra linguagem que não seja a mudez, onde o que se vê é cego, o que se sente é vão, onde o que se quer é negado…

Hoje estive assim… mas já não estou assim…

(novas leituras empurram-me para esta “Loucura”, tão intrigante quanto a de Mário Sá Carneiro… )

2 comentários:

  1. Feiticeirinha,
    lindíssimo e arrebatador este teu texto que, sem qualquer dúvida, meto na "gaveta" da crónica literária. E como em todas as crónicas, literárias ou não, o "eu" ou ficciona tudo o que escreve ou parte de um acontecimento real para extravazar o que lhe vai na Alma... e os passos que damos dentro dos livros que lemos levam-nos a muitos lugares, despertando todos os nossos sentidos. E ler Mário de Sá Carneiro é uma aventura que nos dá prazer... uma luta permanente contra os jogos de palavras e estruturais que reflectem o estado obsessivo permanente em que ele vivia, caracterizado pela delírio, a alucinação, a total confusão de sentidos. Sentia-se só, no meio da multidão,e, como um menino incapaz de crescer, deixou-se "apanhar" pelo abandono e pela frustração, crise de personalidade(orientação sexual à mistura) ... que o levou ao suicídio, ainda muito jovem.
    Desaparecendo com apenas 26 anos, deixou uma obra lírica e em prosa incontestada e incontestável de que destaco "A Confissão de Lúcio" (é esta que estás a ler ou leste? - foi obra obrigatória na Faculdade e deu-me que fazer!... ), "Dispersão" e "Céu em Fogo"
    Como prova da sua crise de personalidade/identidade provocada pelo seu estado de delírio permanente, deixo-te dois poemas de que gosto muito.

    Álcool

    Que droga foi a que me inoculei?
    Ópio de inferno em vez de paraiso? ...
    Que sortilégio a mim próprio lancei?
    Como é que em dor genial eu me eternizo?

    Nem ópio nem morfina. O que me ardeu,
    Foi álcool mais raro e penetrante:
    E só de mim que ando delirante-
    Manhã tão forte que me anoiteceu.


    Quase

    Um pouco mais de sol - eu era brasa.
    Um pouco mais de azul - eu era além.
    Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
    Se ao menos eu permanecesse aquém...

    ...

    Num ímpeto difuso de quebranto,
    Tudo encetei e nada possuí...
    Hoje, de mim, só resta o desencanto
    Das coisas que beijei mas não vivi

    Bjinhos

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  2. Querida Lua...
    O meu cantinho ilumina-se a cada comentário teu... obrigada!!

    Ando a (tentar) ler a obra dele "Loucura" e é realmente labiríntico... Raul e a sua Marcela...

    Adorei os poemas que partilhaste comigo com declarada preferência pelo "Quase..."

    Um beijo imenso para ti!

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