quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Dia 31 de Dezembro…

Quem me conhece sabe que eu adoro falar.
Quem me conhece ainda melhor sabe que eu adoro escrever.
Quem me conhece do avesso sabe que a escrita é um exercício de catarse...

Tendo eu iniciado esta aventura de “Blogueira”, apesar de em fase incipiente e de total amadorismo, parece-me de todo adequado colar um texto sobre as emoções que cada dia 31 de Dezembro de cada ano nos provocam. Melhor: me provocam…

Assim:

1º A instintiva, primária e deprimente sensação “xiça já passou um ano??!!!”

Estou com 34. Solteira. Gorda. No mesmo trabalho há 10 anos. Os meus sobrinhos estão a acabar o curso. Já uso expressões dos meus pais. Não sei qual é a moda da noite. Aos fins-de-semana acordo às 7h sem despertador. Dou comigo a comprar coisinhas para o lar. O sofá tornou-se um grande amigo a par dos filmes tipo “Bridget Jones” . Socorrooooooooooooooooooooooooooooooooooooo!! (( é por esta sensação que a caiprinha é sempre bem acolhida no momento das uvas passas )).

2º A superior e altruísta sensação de “oxalá, no próximo ano, esteja cá com saúde e que os meus familiares e amigos também.”

Por esta sensação e porque realmente me sinto verdadeiramente afortunada pelas pessoas que estão e lutam por estar presentes ao longo do meu caminho, dedico-lhe cinco uvas passas: pelos pais, pelos irmãos, pelos amigos (antigos e novos), por mim própria e, este ano, uma muito especial pela minha cunhada GUIDA.

3º A invariável e inevitável sensação de “é agora que vou fazer o que tenho vindo a adiar”.

No meu caso, seria a dieta. Mas essa já começou há dois meses e vai bem de saúde. Digamos que vou pular nas doze badaladas porque sete kg a menos já não causam tanto estrago!!

Para além da dieta, surgem dois projectos profissionais: um circunstancial e o outro assume o carácter de “raios partam, que nunca mais lá entro”. Assim, virando o ano vou dar um novo impulso ao Mestrado e vou começar (será que alguma vez terminei??!!) a estudar os apontamentos do CEJ.

Que o 2010 me traga sucesso nessas duas empreitadas, será uma das minhas uvas passa.

4º A invariável (e pseudo-evitável) sensação “será desta que eu encontro o meu George Clooney?”

Durante muitos anos esta sensação esteve arredada das minhas uvas passa. Este ano e há dois anos fui assolada por ela. Enfim, nada que transforme a minha vida numa anormalidade, mas que preferia não sentir, isso preferia!!

Apesar de as minhas queridas amigas me considerarem uma fatalista- dramático-exagerada por natureza (e aqui dirijo-me mais à Monique, óbvio!!!!) eu sei que consigo ver sempre um lado positivo da situação. Assim, ao engulipar a sétima uva passa vou pensar: começando o ano sozinha já não tenho que trair ninguém caso o George me apareça: com Martini ou sem martini!! )))

5ª A eterna e adiada sensação “2010 é o ano destinado a fazer a viagem a Itália com a Kika.”


Há muitos anos, era a Kika uma catraia irritante (hoje ela não é catraia mas mantém a maravilhosa característica de irritante) eu e ela fizemos um pacto, solenemente selado com um cumprimento de cuspe.

Estava eu sossegada a tentar adormecer quando ela me aparece a pedir para dormir comigo. Acedi num ápice ante a ternura do momento mas longe de mim pensar que atrás daquele pedacinho de gente vinha o Ken, a Barbie e os apetrechos todos da versão campismo do casal maravilha. O adjectivo de irritante surgiu quando, em plena escuridão propícia ao adormecimento, a Kika, a cada cinco segundos, me “flashava” com a lanterna da bonecada e disparava a pergunta: "Joana, já estás a dormir?"

Quando me apercebi que, apesar do esforço hercúleo para a fazer adormecer ela estava mais desperta do que o João Baião em pleno “EuShowSic”, decidimos abrir o Atlas e tentar saber onde estava o Jorge. Na verdade, eu dormi lá em casa nessa noite porque no dia seguinte íamos buscar o Jorge a Lisboa, chegado de uma viagem à Venezuela.
 
Encurtando a história, o meu dedo e o dedito dela "caíram" em Itália como o país da Viagem-das-nossas-Vidas (como esta história me enternece..)
Fizemos um roteiro, escrevemos esse roteiro e juramos (com cuspe) a concretização da viagem!!! Um PACTO...
 
Os anos volveram, as vidas mudaram mas o cumprimento do pacto está sempre no horizonte!! E venha outra uva passa a isso!!!!

(to be continued...)

domingo, 27 de dezembro de 2009

Momentos doces...

Há algum tempo atrás recebi um mail simpático, daqueles que nos chegam de um endereço de mail de amigos mas que percorreram quase meio mundo.

Disse "simpático" porque o texto, apesar de simples, enumerava, numa lista quase interminável, os pequenos prazeres da vida. Em jeito generalista, e com uma grande dose de abstracção, quase todos os leitores se identificavam nas sensações prazerosas despertadas pela lista...


Hoje, no conforto do sofá enquanto o frio estava lá fora, pensei nos meus pequenos momentos de doce rendição. E descobri estes...

AS COISAS BOAS DA (MINHA) VIDA:


*Rir tanto até que as faces doam. As gargalhadas partilhadas com a minha mãe são, de facto, as melhores...
*Um chuveiro quente num Inverno frio depois de atirar um sapato molhado para cada lado... Ou um banho de espuma.
*Um olhar especial, daqueles que me tocam na alma... rendição incondicional.
*Conduzir numa estrada linda ao som das minhas músicas... sem destino e num fim de tarde...

*Ouvir a minha música preferida no rádio naqueles dias em que acho que o mundo, em jeito de complot, esteve contra mim!
*Ficar na cama a ouvir e ver a chuva cair lá fora através de uma janela de vidro enorme.
*Toalhas quentes e de perfume fresco (depois daquele chuveiro..)
*Um chá exótico num fim de tarde de Inverno e com vistas para o Mar.
*A praia em tardes de Outono sem gente e em pleno namoro com o Mar.
*Rir de mim mesma.
*Entregar-me à chuva tropical (é, de facto, uma delícia e, por três vezes, vivi isso ... )
*Rir por nenhuma razão especial, rir por uma anedota, rir por revivência de uma situação verdadeiramente hilariante. Rir quando não posso rir.
*Alguém que me faz sentir que sou a diferença na sua vida.
*Ouvir, acidentalmente, alguém dizer bem de mim.
*Acordar e verificar que ainda há algumas horas para continuar a dormir.
*O primeiro beijo, um beijo clandestino, proibido... um beijo no pescoço...
*Brincar com uma criança mesmo quando ela ainda tem "pilhas" para mais 200 horas.
*Mexerem-me no cabelo... um mimo indispensável..
*Sonhar acordada... (eterno estado de minh'alma...)
*Chocolate quente (o da TAVI, na foz do Porto, é de morrer por mais...)
*Cozinhar coisas novas...
*O cheiro a bolo de chocolate recém saído do forno...
*Um bom livro, num bom sofá, com boa música (invariavelmente, Maria Bethânia ou Diana Krall)
*Dançar até à exaustão em ritmos latinos ou "eighties". A dança é a uma das minhas preferidas forma de expressão corporal das emoções...
*O silêncio cúmplice depois do amor como forma de liberdade do corpo e linguagem emocional...
*Passar tempo com amigos íntimos.
*Fazer novos amigos.
*Ver o sorriso e ouvir as gargalhadas dos amigos.
*Andar empoleirada no braço de quem gosto.
*Encontrar, por acaso, um velho amigo e ver que algumas coisas (boas ou más) nunca mudam.
*Observar o contentamento de alguém que está a abrir um presente que lhe ofereci.
*Ver o pôr-do-sol...
*Por fim mas nunca no fim: ouvir os meus pais a contarem as suas histórias (e como meu Pai é fabuloso -também- nisso!!) no contexto de uma almoçarada familiar...

Depois deste rol sinto-me enfeitiçada...

Beijos mágicos...

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

...e não é para isto que serve um blog?!

- Nos piores momentos da tua vida, ou naqueles em que duvides de tudo, pensa que és o mundo de alguém, pensa que és tudo, tudo para mim...


- Tudo, tudo...?! - enterneço-me ante aquele olhar determinado enquanto lhe beijo ainda mais as mãos...

- Sem ti a minha existência não teria sentido. - indómita replica.

Perdoem-me todas as filhas deste Mundo, mas a minha Mãe é a melhor de todas!
Um Ser Humano extraordinário que me faz sentir a melhor pessoa do seu universo, mesmo quando lhe oculto estes meus estados perdidamente nostálgicos...

É minha cúmplice, meu colo, meu ninho, minha crítica, minha amiga, meu farol, meu exemplo. Dona de um sentido de justiça, de uma força inabalável, já vivemos juntas momentos tão frágeis, tão nossos, tão protegidos da vulgaridade dos amores filiais e maternais...

Somos Uma Alma ....

Mamã, cada dia que procuro melhorar-me como pessoa, por ti o faço...


Amo-te até ao fim da eternidade...

 
PS - Apeteceu-me "gritar" esta homenagem ainda que tão aquém da grandeza deste afecto...


Sorriso enfeitiçado...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O Pensamento que, não sendo meu, o sinto como meu....


Apenas é digno da vida aquele que todos os dias parte para ela em combate

Autor: O Alemão Johann Wolfgang von Goethe [1749-1832], Escritor, Cientista, Mestre de Poesia, Drama e Novela

Há pensamentos que nos assomam de tal forma que apenas nos limitamos a reproduzi-los como se tivessem sido por nós pensados...

Este é realmente aquele que adopto como "ordem do dia" nesta "Assembleia de emoções" que atravessam a minha rotina transformando a minha vida numa experiência cada vez mais rica e mais, assim espero, enriquecedora...

Um sorriso com feitiços de quem combate...

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Não tomemos a parte pelo todo...

Minha Querida AMIGA do último comentário ao textinho do Rosa Guimarães:

É mais do que sabida, senão mundialmente, pelo menos Portugalmente, a minha incondicional rendição à arte e à mestria das interpretações da Maria Bethânia...

Acho-a intensa e genuína e tê-la visto em palco sedimentou a minha rendição...

Admito que muitas das suas escolhas se prendem com canções, músicas ou obras de "amores feridos" a cuja interpretação imprime um cunho pessoalíssimo, maduro, sentido, intenso e que, tantas vezes, nos transporta para a quase real vivência dessas (tantas vezes tristes) emoções, mesmo que estejamos longe de as sentir na realidade.

De facto, essas interpretações absorvem-nos e implicam-nos numa imitação da vida...

Mas, se isto é verdade, levando-te Querida AMIGA, a dizer-me para não ouvir Bethânia quando estou mais triste, não é menos verdade que esta mulher "força da natureza" tem outras escolhas alegres. Talmente na intensidade interpretadas leva-nos, com o mesmo quase-hipnotismo, a viver sensações de vida e de força!

Ainda estou muito fresca nesta coisa de blogs e não sei "postar" músicas, mas deixo a letra desta que é um delicioso hino à Alegria em palavras e em melodia....

Quem tiver a curiosidade, que procure!

Por isso, minha Querida AMIGA, deixa-me ouvir "esta" Bethânia, neste imenso e intenso registo de força e alegria onde pretendo claramente absorver "coragens"...

Um beijinho com muitos pós de alegres feitiços e afastados venenos...

ALEGRIA

Vou te dar alegria
Eu vou parar de chorar
Eu vou raiar um novo dia
Vou sair do fundo do mar
Eu vou sair da beira do abismo
E dançar e cantar e dançar
A tristeza é uma forma de egoísmo

Eu vou te dar, eu vou ter dar
Eu vou te dar Alegria


(do álbum Imitação da Vida)

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O fecho de um ciclo...

Porque não há luto sem enterro, precisei escrever isto...

Adeus...

Ao Amor ferido pela
Desilusão! Neste
Entorpecimento sentido, orfãos
Uivos quebram o
Silêncio imposto.

Alma, assim perdida,
Despede-se dos cruéis
Enleios, instrumentos
Usurários na fragilidade dos
Sentimentos ora traídos.

Assim morto o
Doce-agreste
Enternecimento,
Urge o
Sossego de minh’ Alma…

... Não há veneno neste mundo que macule o feitiço da minha essência...

Jamais me renderei à escolha de um jeito triste e amargurado!



terça-feira, 20 de outubro de 2009

"Felicidade se acha em horinhas de descuido"

Um belíssimo pensamento este de um poeta brasileiro Guimarães Rosa...

Quem me conhece sabe que eu sou uma admiradora de Maria Bethânia especialmente pela redescoberta que elas nos traz destes "tesouros"...

Preciso de viver horinhas de descuido a ver se acho a Felicidade...

Enquanto isso vou deliciando-me nas melodias cantadas e sentidas por esta baiana que é realmente sublime na escolha dos autores que interpreta...


Feitiços desabafados...

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O Tempo... Remédio amargo e doce Veneno

Nunca fui pessoa de silêncios...

Mesmo quando eles eram bâlsamos num quadro de emoções perturbadas sempre quis (quero) uma palavra muda...

As palavras escritas, mudas, eternas aliadas do silêncio, carregam em si a nobreza da cumplicidade com o mais profundo Eu.

Assim, numa clara -ou desesperada- tentativa, sempre quis organizar as emoções vertendo um ou outro pensamento em papéis brancos, guardanapos de café ou diários emergentes de um impulso de escrita...
Mas se me encontro ou reencontro nessa escrita, é pela leitura que mais descubro outras frases que tão bem dizem o que, por vezes, calo...
No último livro que li "tropecei" neste pensamento:

“O tempo é o lenço de toda a lágrima”.

... Como poucas e simples palavras numa conjugação ainda mais simples carregam uma densa e implacável verdade!...
O Tempo limpa as lágrimas, o Tempo enxagua as lágrimas, o Tempo seca e rasura as lágrimas...
... O Tempo...
Daqui salto para o meu tempo, os meus tempos...
E hoje foi tempo de escrever...
Beijos enfeitiçados e sorrisos endiabrados!

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Em luta....



Isto tem sido a causa da minha profunda tristeza pela alteração de tudo no meu fisíco e emoções...

( apeteceu-me o desabafo... )

quinta-feira, 16 de abril de 2009

O Mar ...

E sempre que chego ali, àquele limite ilimitado tido em mim como libertador, o meu Ser como que renasce!

Os cheiros enfeitiçam-me, a brisa afaga-me, a imensidão pacifica-me, os sons embalam-me...

Como eu preciso desses momentos para me resgatar dos labirintos em que me deixei perder durante a semana.
Às vezes questiono-me se não me deixo neles perder, confundir e (enfim) extenuar, propositadamente na ânsia de viver a sensação desse renascimento....

Enquanto cravo os pés na frescura da areia e procuro encontrar uma possível coreografia nos vôos esvoaçantes das gaivotas, sinto-me tomada pela harmonia do ambiente e, aí, pelo banal e vital respirar, em jeito de catarse, reencontro-me! É maravilhoso...

Não sei se o Mar tem este efeito sobre todas as pessoas e -francamente!- também não me importa.
Quanto a mim, ele é o companheiro perfeito: entende-me no silêncio, não pergunta "porquê?", recebe-me depois das ausências silentes e reinventa-me na simplicidade da sua existência.
A ele me entrego com a força de todos os sentidos bem segura de que os meus segredos nele vivem...

Jamais dispensarei na minha vida este pequeno mas indefectível prazer de tornar o Mar meu cúmplice pois que são estes momentos de confissão, entrega e reinvenção que me fazem como sou e me conferem a plenitude.

Feitiços e poções de maresias...

terça-feira, 31 de março de 2009

Os elementos da Natureza e Os meus Eus...


Invejo a Água na sua liquidez, estados cristalizados, fluidez e penetração nos espaços improváveis...

Invejo o Fogo nas cores, no calor, no paradoxo de cura e destruição...

Invejo a Terra na eterna renovação, no seu ventre de seres vivos, nos cheiros que exala ao receber a chuva...

Invejo o Ar na invisibilidade, na força dos ventos que oculta, na dança que imprime às folhas ou outros entes leves...


E nesta inveja dos elementos, sentida na dualidade do meu Eu, acabo por me invejar...


Sou (também) Água porque penetrei em almas impenetráveis e aí me cristalizei,

Sou (também) Fogo porque me curo e me destruo na ambivalência das emoções,

Sou (também) Terra porque me renovo a cada reverso e sou ventre de vida,

Sou (também) Ar porque oculto ventos destemidos e enleio almas numa dança feitiço...


... Afinal, é na natureza de mim, do meu Eu, que me vejo: ... Uma mulher

Um texto de intervenção... quando um veneno é remédio

Este texto foi escrito aquando da discussão pública da despenalização do Aborto e do aborto político que foi a cobardia de passar essa decisão pelo crivo do Referendo...

Porque, de facto, estes meus últimos dias têm sido de hesitações e sentimentos menos fortes, quis relembrar ou reviver a emoção de força e intrepidez que coloquei e transborda deste texto.

Nessa revivência, trouxe a mim mesma a revitalização que precisava...

Foi um momento de veneno que, hoje, se assumiu como remédio regenerador ...


Um sorriso curado! ...


««««««««««««««««««««

Francamente sempre me considerei grata essencialmente a quem nos nossos passados lutou para que hoje possámos exercer plenamente os nossos direitos cívicos.

A cidadania, a participação como cidadão na organização da cidade, comporta direitos mas tem correlativos deveres. Mais do que direito à cidania, há momentos em que nos é exigido o dever de cidadania.

Somos parte de uma engrenagem e devemos ter voz activa, lutar para que sejamos ouvidos e devemos dar nosso contributo para a máquina: seja incentivando quem vai ao leme, seja criticando despotismos, cobardias, injustiças...


Tenho para mim que esta questão do Aborto é uma hipocrisia do Governo, uma cobardia... Se há coragem política para congelar salários, permitir encerramentos de fábricas, aumentar despudoramente impostos, encerrar maternidades enquanto se gastam milhões em obras megalómanas de inúteis, então deveria haver coragem para cumprir o que era programa eleitoral e agora é mote de campanha a favor do SIM...

Enfim, isso são contas de outro rosário.

Eu estou esclarecida há muito tempo.

É minha inabalável convicção de que as mulheres não devem abortar. É vida e é vida humana. Mas se elas tomarem essa decisão, intíma, dolorosa, angustiante, fragilizante, solitária, de perda, de confusão, de desespero, é humano, depois de tudo isso, deverem sujeitar-se ao vão de uma escada, à carnificina de uma qualquer habilidosa portadora de metálicos e sujos instrumentos, arrancar de si o que já assumiu como vida e conviver com o estropiamento fisico e incontornável expiação de conscicência ??!!

Ou, pelo contrário, não deve uma sociedade civilizada permitir que essa difícil decisão seja executada em condições de higiene e saúde garantidas?!!

Não é hipocrisia manter-se o epíteto de criminosa a uma mulher destas? Diz-se que os tribunais são sensíveis e não punem, apesar da lei ... mas isto faz sentido??!!!

Do ponto de vista técnico-legal é um absurdo!!! O Direito Penal pauta-se pelo princípio da subsidariedade e necessidade da pena .... Ora, se se diz que" há crime, mas atenção! nestas situações especiais não há condenação", então para quê a norma incriminadora?? Para inglês ver??! Para ser bonito? Católicamente correcto?? ... Enfim ...

Mas admito que é uma questão de convicção pessoal.

Daí que em conversas públicas, com amigos ou não amigos, com familiares ou colegas, nunca tenha ultrapassado o registo do argumento técnico-legal .... porque convicções não se discutem, luta-se por elas!


Agora o que verdadeiramente desejo é que as pessoas, os cidadãos participem. O direito ao voto, à palavra a dar, à participação, é inalienável. Foi uma conquista e tantas vezes é reduzido a um mero acto de "alimentar políticos" .... Que argumento triste!...

Votar é ser cidadão, e eu, enquanto puder, iriei sempre nem que seja para votar em branco!Não abdico da minha cidadania!!!Por isso, vote-se Sim ou Não, o importante é ir!!! É sair deste conforto amorfo do sofá e do apático e asqueroso argumento de que "o meu voto não é preciso"...

A este propósito, apetece-me partilhar este belíssimo "hino" do Luís Fernando Veríssimo...


"Esse é o mote:Vote!
Estamos todos no mesmo bote.
Vote.
Escolha o menos fracote
e vote.
Já não se votou no Lott?
Pois vote.
Não anule nem faça trote.
Vote.
Pelas barbas do Quixote,vote!
Não picote o papelote.
Vote.
Tire os nomes de um pote.
Ou do decote.
Mas vote.
Não passa na glote?Não faz mal.
Vote.
Você preferia ficar em casa ouvindo o Concerto em Dó Maior deGottfried Munthel para Orquestra, Baixo Contínuo e Fagote?
Tomando um scotch? Esquece.
Vote.
Vote em sacerdote,
Ou em hotentote.
Mas vote.
Vote em cocote. (Mas não em iscariote.)
Mas vote.
Não fique aí pensando "to be or not".Vote!
E, se no fim faltar rima, não se apague.
Sufrague."

sexta-feira, 27 de março de 2009

Feitiços da Amizade...

Hoje é um dia a que costumo chamar de "dia Fénix" invocando assim a história mitológica daquela que renasce das cinzas...

Há dias em que as emoções são como que consumidas num fogo tal que julgamos devastador a ponto de nada mais se poder reconstruir ou recuperar.

É nessa patética incredulidade, a que muitas vezes me entrego, que brotam pequenos apontamentos de esperança. Gestos, palavras, presenças que, donas de uma força quase hérculea, me resgatam e me rendem ao intímo recolhimento da escrita, restando apenas a capacidade de partilhar este belíssimo texto de Vinicius de Moraes:

" Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles. A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objecto dela se divida em outros afectos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.
E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências...
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.
Muitos deles estão lendo esta crónica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro embora não declare e não os procure.E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo. Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer...
Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!

A gente não faz amigos, reconhece-os."

Assim, obrigada pelos comentários e pela força...

E sem distinguir, mas querendo reconhecer, deixo um feitiço muito terno a uma amizade muito especial... A ti: Obrigada...

Beijos endiabrados

terça-feira, 24 de março de 2009

Em mim a imaginação impera...


Uma imagem é traiçoeira.
Se, por um lado, vale por mil palavras, lugar comum para significar que a descrição literária fica postergada ante plenitude de significação transmitida pela imagem, a verdade é que a imagem também cerceia a nossa imaginação ao dar-nos como adquirido o que se quis mostrar.
Ainda assim, acho que a imaginação é, por definição, insusceptível de grilhões...
Por exemplo, esta pintura, "Nude Woman Asleep", de William Etty, um pintor inglês do Século XIX, diz-nos muito, ou melhor, mostra-nos muito. Uma mulher dormindo, nua, de formas acentuadas, cabelos castanhos. Há um lençol ou um pano branco ... e ela jaz no que parece ser um tronco de árvore ...
Mas ... porque dorme esta mulher num tronco? Será um sono de rendição após um acto de amor, atendendo a que está ruborizada? Há quanto tempo dorme? E o lençol, qual a finalidade da sua existência? E quem a pinta é amante? Ou um vil ladrão de momentos intímos? Será ela uma prostituta ou uma mulher de convenções mas despida delas na intimidade? E quando acordou? Entregou-se de novo? Assustou-se com o pintor? Terá sido vítima de chantagem? ...
Do adquirido partimos para o mundo da incógnita, da delícia que é questionarmos o que se nos apresenta como dado. É nesse questionar, nesse indagar, nessa procura que crescemos e sentimos a vida...
Hoje apeteceu-me isto ...
Beijos enfeitiçados...

sexta-feira, 20 de março de 2009

Receita da Poção "Como iniciar um blog"

Para a Base:
Litros de chá e água ( para quem está em dieta) ou Litros de caipirinha
1 Sentimento de que a escrita faz bem
1 Relato das peripécias de uma Co-Organização da despedida de solteira de uma amiga colossal
Muito Apreço manifestado pela Noiva e por outras pessoas amigas
Uma pitada de "Mania que se sabe escrever"
Outra pitada de "Mania que se tem alguma coisa para dizer"
Para o Título:
1 data de nascimento coincidente com o Dia das Bruxas
1 vida de afectos ("remédios") dados
Uma pitada de uns quantos venenos destilados no auge de um mau-feitio adorável
1 Sentido de oportunidade para a criatividade: último livro lido: "Venenos de Deus e Remédios do Diabo"


Tudo bem misturado e maturado e fermentado, coloca-se num impulso de arrojo, devidamente untado de "Conversa com uma certa Amiga que vos chama constantemente de «Postal» ou «Croma»", leva-se ao desespero de um servidor de Blogs e, 300 mil horas depois:

VOILÁ! Uma maravilhosa poção para iniciar um blog...
Espero que tenha saído bem e que esta Poção seja uma celebração das coisas boas da vida!
Beijos com feitiços