quarta-feira, 14 de abril de 2010

... muda...

Há autores que abraçam certos estilos literários quase labirínticos de tão dificil se torna apreender o fio condutor da trama.

Há leitores pacientes, persistentes ou até mesmo teimosos que, apesar do tédio ou incompreensão inicial, não desistem. Umas vezes movidos pela avidez da literatura, bem avaliando que qualquer livro merece ser lido, outras pela presunção de que se trata de um autor nas bocas do mundo e -querendo ser intelectualmente valorizado pela escolha literária- lá insiste, apesar do tédio e da incompreensão.

Ora António Lobo Antunes é um autor difícil.
Rendo-me às crónicas dele na Revista Visão, (claro que já me tinha rendido seu charme de sessentão de olho azul mar... mas isso são contas de outro rosário). Aconteceu-me, porém, que, enlevada pela magia do título "Um dia hei-de amar uma pedra" iniciei-me na leitura deste autor contemporâneo, uma vez que nada dele ainda tinha lido. Confesso que não consegui sair das primeiras cinco, seis páginas... Está lá para outro dia ou para outro estado emocional mais empático já que acredito que os livros, tal como as pessoas, ou me cativam à primeira ou então adivinha-se luta morosa...

Tudo para dizer que Lobo Antunes me merece uma leitura com outra disposição. E merece por duas razões, sem qualquer ordem de prioridade entre elas. Merece então porque, de facto, as crónicas dele são deliciosas e merece porque li algures esta citação retirada do romance "A ordem natural das coisas":


"Amo-te com a infinita, extasiada piedade da paixão, amo-te quando suas no teu sono e eu bebo cada gota de ti percorrendo-te poro a poro com a avidez da língua."

Sem palavras... já que estas me emudeceram...

Beijos enfeitiçados por um certo Lobo...

3 comentários:

  1. Feiticeirinha,
    acabo de ler a tua "crónica" sobre o "problemático" Lobo Antunes. Tens razão. A sua escrita é, sem dúvida, de difícil digestão. Também eu travo duras batalhas para encontrar o fio condutor da sua mensagem(perguntará ele com que direito nós, leitores, temos de encontrar sempre uma mensagem no que eles-escritores-escrevem)e concluir a leitura. Ler um livro de Lobo Antunes é, na minha opinião, a mesma coisa que contemplar um quadro de Salvador Dali... a mensagem está lá, mas encoberta, obrigando o leitor/observador a um permanente trabalho de desconstrução. Mas que é difícil é... muito diferente da escrita neo-realista, "engagée", que nos coloca tudo à frente dos olhos, não deixando de ser bela e magnífica por causa disso. As obras de Jorge Amado, Manuel da Fonseca, Alves Redol, Namora, entre outros, são disso exemplo. E mesmo autores como Mia Couto, Luandino Vieira, Sepúlveda, Garcia Marquez, etc... não nos dando tudo de "mão beijada", permitem-nos o contacto com textos lindíssimos e de grande profundidade. Lembro-te o conto do Mia " O embondeiro que sonhava passáros" e o "Macandumba" do Luandino, para não falar no "Amores em tempos de cólera" que acho fenomenal... pela presença do "fantástico" ao longo da narrativa.
    Contudo, e regressando a Lobo Antunes, cujas obras têm títulos deliciosos, gostaria de te aconselhar o "O que faria quando tudo arde?". Difícil de ler, estrutura muito complexa que te obriga a andar para a frente e para trás... mas que tem a ver com o teu trabalho. Luta contra a dificuldade da sua leitura, mas lê. Foi o que eu fiz... e também reconheço que ele é complexo... vaidoso(mesmo que os seus olhos azuis lhe dêem motivo para isso). Bjinhos

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  2. Feiticeirinha,
    depois de ter submetido o comentário, reparei que o título do livro tem um pequeno/grande erro. Então aí vai, agora certo: " O que farei quando tudo arde?". Apenas uma questão de tempo verbal... que altera tudo... mesmo do ponto de vista da sonoridade. Bjinhos

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  3. Feiticeirinha,
    Andas a escrever pouco. Gandolice, é?!!! E a desencaminhar(ainda bem!) os outros.
    É verdade, não vi a tua mensagem logo, porque tinha o tlm em silêncio, mas gostei muito de saber que essa geração familiar se reencontrou. A J. já me telefonou e estava radiante. Diz que há muito não se divertia tanto(pudera!)Tomara que não encontre nenhuma "pedra no meio do caminho". Tomara que lhe nasçam umas asas que lhe permitam voar. Bjinhos
    A anónima que tu bem conheces... mas como falo dos outros... é melhor assim, por causa da tal pedra(pedra?!!! meteorito é o que é.)

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