quarta-feira, 17 de novembro de 2010

La Vie en rose...

( outro texto do baú...)

Jamais me esquecerei do efeito que aquele monumento provocou em mim...


Saída das cavidades do Metro, ainda aturdida pela emoção da "primeira vez" naqueles rápidos cavernosos, eis que, por entre árvores e sem qualquer pudor ou timidez, rasgando o céu numa declaração de presença, avisto a Torre Eiffel!

E como me deixo sempre levar pelas emoções até ao estado quase hipnótico, caminhei, empurrada pela multidão multicolor e multiactiva...
Engraçado como se consegue observar num aglomerado de gente uma tamanha diversidade de manifestações: uns maravilhados como eu (turistas, sem tempo definido...), outros absorvidos na rotina (mais um dia de trabalho e horários e comboios e metros...), aqueles que namoram (afinal é a cidade do Amorrrrrr...), agradam-me os que pintam e cantam preços de quadros que fazem dançar os olhos ... Fragmentos de vidas que se cruzam (ou não!) sob a égide de um monumento vivo e estático...

Pululavam ali, já no olho da estrutura, centenas, milhares de pessoas... e eu, desta vez já em estado hipnótico, lá observava tudo ... em pensamentos que recuavam aos tempos da edificação dos aços e ferros forjados...

Apesar de tudo não pude deixar de lamentar que a “modernidade” dos telemóveis, dos flashes das máquinas, das músicas disparatadas, as pipocas e cheiros óleos fritos tiravam o glamour à Torre.... como seria bom reviver e apreciar a tranquilidade dos finais do Séc. XIX.

E ver a cidade a meus pés?

A subida no ascensor até ao segundo patamar foi uma aventura. Sair e encostar-me às grades e ter a cidade a meus pés? Indescritível!! Uma imensidão de sensações, pensamentos, planos, suposições, conjecturas... tantas quantas as “caixinhas” que quase conseguia tocar dali!

E tantos outros cantos e recantos parisienses mexeram comigo...

Amei Paris e voltarei para viver Paris...
ali, quando as emoções explodem, a média-luz nos invade e o som do tango nos bairros dos “caffetinos” apela aos desejos...

Poções parisienses...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Fragmentos de um Conto...

Ontem, na minha eterna mania de arrumar desarrumando, encontrei alguns textos que mais não eram, são (serão?) fragmentos de um Conto, de uma qualquer estória...
Pertecem, então, ao meu lado de "escrevinhadora" pois que o sublime epíteto de Escritor é pertença de uma quase casta ou elite, donos que são os seus membros de um verdadeiro Dom que não tenho...

Fragmentos assim expostos... sem ordem ou (crono)lógica, num caos mais ou menos organizado pelo singelo desejo de lhes dar alguma luz..

Foi bom "revisitar" este Tempo em que tentava escrever algo... sério...

Deixo a quem me lê Feitiços logicamente caóticos...

(...)

Assim se despediu ele, conduzido pelo insuportável silêncio que a ausência gritou:


“Acabou...

Esquecer-te é impossível.

Mas não é essa impossibilidade que me leva a não tentar esquecer-te.
Antes, é a minha feroz vontade de te ter tido como minha, num fragmento da vida, que me impele a recordar-te.
Como uma estante sem um livro não é uma estante, como um "Puzzle" sem uma peça não é um "Puzzle", a minha estória sem ti não é a minha estória...

Jamais te relegarei para o canto das memórias apagadas!! Aí jazem os momentos para os quais comprei um bilhete de ida mas jamais de volta. Na força pujante do esquecimento elas não são revisitadas... pertencem-me indefectivelmente mas estão proscritas porque a minha leveza de ser assim o decretou!

Ainda que sejas Pretérito do verbo estar (na minha vida) quero sempre revisitar-te no Gerúndio, bem sabendo que o Futuro não se conjuga...

Bem podes achar-me (e achas!!!) um tonto melodramático, mas refuto essa adjectivação quando o que me move e me turbina é a tenacidade e o pragmatismo. Sim, porque o teu silêncio determinou que em Paixão pode, afinal, falar-se “pragmatismo” ...

Dissemo-nos o que então nos fazia sentido. O que da Alma nos brotava (recordo-me da nossa embriaguez de loucos e apaixonados, jurando-nos almas gémeas)
Hoje nada te sei sem nunca te ter imaginado capaz desta ausência...

Um beijo com o sabor que te permita a memória do que dançámos... “

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Não sei por quem espero... nem sei se ainda existe por quem esperava...


"Apenas é digno da vida aquele que todos os dias parte para ela em combate."


Autor: Johann Wolfgang von Goethe [1749-1832], alemão, Escritor, Cientista, Mestre de Poesia, Drama e Novela


Há pensamentos que nos assomam de tal forma que apenas nos limitamos a reproduzi-los como se tivessem sido por nós pensados...

A vida é magia, é uma dádiva.
É um papel branco, uma virgem tela onde podemos escrever e desenhar tudo o que quisermos com as palavras e cores que desejarmos. E ainda que impedidos dessa voluntariedade temos o supremo e inabalável dever de lutar pelos sonhos, pelas concretizações, pelo sucesso....

... mesmo que morramos na praia, não se oldive nunca que, até esse derradeiro momento, esbracejámos fiéis a um horizonte promissor do Tudo...

Quem assim não vive, esvazia-se, deambulando singelamente nas coordenadas de um Tempo e de um Espaço...

Feitiços de guerreira....

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

... ainda antes de adormecer...


Li e reli os textos deste meu Blog ("meu blog", pomposo não é? enfim...)


Na verdade, alguns são, bons textos, não há que ser falsamente modesta. Nunca o fui e não vejo razões para o ser agora. Vi-me mesmo surpreendida com os comentários que ia cogitando à medida que ia lendo os textos ao ponto até de achar que não era eu a sua autora de tão poéticos que me soavam.

Outros, obviamente, são medianos, simples relatos de fragmentos da minha existência também ela tão simples.

Não pude, porém, deixar de concluir que este blog tem uma carga triste, nostálgica, saudosa e demasiado agarrado a emoções que teimo em convocar para o presente quando as mesmas deveriam estar no protector lugar do "foram, eram, aconteceram".

E quando me deparei com a necessidade de escrever algo mais "light", senti-me incapaz. Porque, neste momento, é essa minha alma nostálgica e intensa que comanda a minha vida.

Permito-me tantas e um sem número vezes que a alegria me invada e rio, e digo tontices, e faço disparates, e sorrio com tanta facilidade, mas quando chego aqui, no momento de desaguar os textos, como que deixo cair o manto e desnudo-me até à nostalgia...

E sorrio, ainda assim, ante esta quase inevitabilidade. E rendo-me a ela, mesmo acreditando que não há ninguém nem nada neste mundo que mereça tal nudez...

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Apeteceu-me isto... hoje...

Eu gosto muito do Outono...



O doce cheiro das castanhas a assar no embalo dos cânticos da vendedoras, o Sol teimoso numa afirmação de força ante as ameaçadores nuvens, os gritos das crianças de regresso ou de ida para a escola ..... e uma maravilhosa vista da cidade velha enquanto tranquilamente aprecio a passagem da manhã para a tarde...

No Verão não há esta doce nostalgia, não há tempo para aconchegarmos o casaco no impulso de resposta a um vento frio que nos sopra junto ao pescoço. Não há este calor envolvente quente como um abraço, não há luz tórrida, vermelha-fogo, a esgueirar-se entre os prédios de velhas fachadas orgulhosas de outros tempos...

Como eu gosto de divagar no tempo sem tempo...

Apeteceu-me escrever isto porque hoje me sinto rendida à estação... e vou sair por aí com a melodia e o verso “vou viver como alguém que espera um novo amor” que me ficou desde manhã quando ouvia no carro o álbum da Ana Carolina em CD... (( é linda essa música ...)))

Um sorriso Outonal..

sábado, 31 de julho de 2010

!!!!

(estas coisas dos blogs e das redes sociais permitem-nos um registo em espécie de desabafo que, neste momento, me apetece)


Hoje quase perdi uma amizade que muito estimo e quero continuar a estimar . Por força de uma precipitação de tempos, caí num (legítimo) juízo sobre a minha lealdade que de todo não correspondeu à inocente intenção que esteve por detrás da minha atitude.

Apesar de tudo esclarecido (ainda bem!) levei-me a reflectir , uma vez mais, sobre esta coisa da dualidade de perspectivas de uma realidade ou de um facto real. Quantas vezes a objectividade ou simplicidade de um gesto, uma atitude, uma reacção, uma palavra e até um silêncio, não é questionada ou maculada por uma perspectiva de uma “lente” diferente?

Apesar do constrangimento dessas situações e nunca dispensando a inabalável força da honestidade, resta-nos, ainda assim, acreditar que quem nos vê erradamente tem o dever de assumir a possibilidade de poder estar a ver-nos subjectiva e, por consequência, erradamente…

Espero não mais voltar a ser mal-entendida nos meus gestos, atitudes, reações, palavras e silêncios sendo que de tudo farei para clarificar situações dúbias sobretudo quando o que está em causa é a minha intenção e até o sentido dos meus afectos!

(fim de desabafo)

terça-feira, 20 de julho de 2010

Carta ao Vasco...

Meu Querido Vasco:

Ainda não fomos apresentados porque esta tua Tia Postiça está sempre numa vida a mil e é bom que comeces a perceber isso em mim. Eu sou a personificação do stress e da ansiedade como os teus pais um dia terão oportunidade de te contar e as tuas outras tias postiças farão questão em confirmar, fartas que estão de me conhecer (aturar?).

E digo que é bom que comeces por perceber esta minha característica porque é precisamente por ela que eu quero dizer-te: OBRIGADA, meu doce Vasquinho!

Um dia contar-te-ão a tua história com outra ternura, com outro sabor, com outro sentimento de gratidão (a uma qualquer entidade com nome ou sem nome, divindade ou simples acaso, não sei…) mas eu gostaria de te dizer que ela tem um encanto especial para mim: contigo aprendi que a magia da vida reside em aprendermos a nada esperar dela. Os projectos, os planos são meros instrumentos da nossa vã ilusão de que dominamos ou comandamos os acontecimentos.

(sim, meu docinho, os teus pais e as tuas tias também te dirão que esta tua tia é uma romântica incorrigível e, nesse seguimento, tem a mania que sabe escrever e, pior!, tudo é pretexto para “textinhos”, “declarações”, “escritos”, “recadinhos” e agora até um Blog… )

Tantas palavras e ainda não te disse que o início da tua história de Vida é de uma beleza e de uma magia fabulosa!! Um começo em grande, meu docinho…

Num quadro de lutas, de frustrações, de receios, de esperanças quase esvaídas mas prontos para iniciar, (agora sim!!!) uma nova batalha, não olhando a meios mas apenas ao fim supremo da tua existência, os teus pais foram presenteados pela magia da “não espera”. Imagina que te “descobriram” no momento em que a Mamã fazia uma Ecografia como exame inicial de um tratamento de fertilidade!!!!! Delicioso, não é? Meses de espera, de procuras, de esperanças e de desesperanças e desespero eis que tu apareces quando já era difícil acreditar que virias…

Nesta fase da minha vida, Vasquinho, nem imaginas o quanto é importante acreditar que essa tua traquinice transformada em lição de Vida é a essência de uma existência serena, o segredo para um percurso mais leve e menos tenso… Nada esperar significa que tudo o que vier é sempre mais do que o que se tinha.

Enfim, fica pois aqui o desabafo e um pequenino retrato desta tua tia que é um poço de emoções…

Deixo-te um beijinho doce com uma certeza de que o início da tua história só pode ser um prenúncio de coisas boas na tua vida e das quais desejo ser participante ou mera espectadora, mas sempre presente…

Da tua Tia Feitiçeira....

( foi preciso o nascimento de uma criança para quebrar a falta de inspiração para a escrita.. )

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Outro roubo...

Beijo

Um beijo em lábios é que se demora
e tremem no abrir-se a dentes línguas
tão penetrantes quanto línguas podem.
Mais beijo é mais. É boca aberta hiante
para de encher-se ao que se mova nela.
É dentes se apertando delicados.
É língua que na boca se agitando
irá de um corpo inteiro descobrir o gosto
e sobretudo o que se oculta em sombras
e nos recantos em cabelos vive.

É beijo tudo o que de lábios seja
quanto de lábios se deseja.



Jorge de Sena (um português que sorveu a brasilinidade tão deliciosamente exposta neste poema..)

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Eu, Feiticeira, me confesso ladra... mas apenas de textos que me espelham...



(Também)
SOU EU

Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,
Espécie de acessório ou sobressalente próprio,
Arredores irregulares da minha emoção sincera,

Sou eu aqui em mim, sou eu.
Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconseqüente,
Como de um sonho formado sobre realidades mistas,
De me ter deixado, a mim, num banco de carro elétrico,

Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima.
E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua,
Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda,
De haver melhor em mim do que eu.


Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa,
Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores,
De haver falhado tudo como tropeçar no capacho,
De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas,
De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida.


Baste! É a impressão um tanto ou quanto metafísica,
Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar,
De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo —
A impressão de pão com manteiga e brinquedos
De um grande sossego sem Jardins de Prosérpina,
De uma boa-vontade para com a vida encostada de testa à janela,
Num ver chover com som lá fora
E não as lágrimas mortas de custar a engolir.

Baste, sim baste! Sou eu mesmo, o trocado,
O emissário sem carta nem credenciais,
O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro,
A quem tinem as campainhas da cabeça
Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima.

Sou eu mesmo, a charada sincopada
Que ninguém da roda decifra nos serões de província.

Sou eu mesmo, que remédio! ...


As maravilhosas poções de Álvaro de Campos...

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Voltei à fase dos poemas, hinos à sensibilidade...

Nas minhas incursões noturnas pela internet descobri, ontem, este poema do saudoso Eugénio de Andrade.

Tocada, rendida e maravilhada "furteio-o" da sua sede e trouxe-o até ao meu canto... estarei perdoada? ...

"Apenas um corpo

Respira. Um corpo horizontal,
Tangível, respira.
Um corpo nu, divino,
Respira, ondula, infatigável.

Amorosamente toco o que resta dos deuses.
As mãos seguem a inclinação
do peito e tremem,
pesadas de desejo.

Um rio interior aguarda.
Aguarda um relâmpago,
um raio de sol,
outro corpo.

Se encosto o ouvido à sua nudez,
uma música sobe,
ergue-se do sangue,
prolonga outra música.

Um novo corpo nasce,
nasce dessa música que não cessa,
desse bosque rumoroso de luz,
debaixo do meu corpo desvelado."


Fabuloso, não é?... "um novo corpo nasce debaixo do meu corpo desvelado"...

Um sorriso apenas ...

terça-feira, 29 de junho de 2010

Desejos... (não encontrei título melhor, mas aceito sugestões)


Apeteceu-me este texto depois de uma conversa de fim de tarde e inspirada por este maravilhoso e delicioso nu da Tamara Lempicka, “Adão e Eva”.


… O que mais me seduz é a sedução na certeza de que os desejos nela implícitos são inconcretizaveis de imediato.
O que se vê na essência de um desejo, pelo menos naquele dito físico, sexual, é a possibilidade de satisfação imediata, no minuto ou na hora seguinte. Um olhar que despe antecipa o momento desejado de possuir um corpo nu.
O sentir o desejo provocado num homem e saber que ele nada pode fazer, falar ou tocar, dá poder e aumenta a excitação. Provocar o desejável no impossível, é maquiavelicamente excitante, e, pelo que li, enquadra-se na prática tântrica do sexo.

Pergunta-me ela, neste ponto da conversa,: “então para ti o que é um momento perfeito de sedução?”
“Simples … dizer a um homem com toda a minha linguagem corporal que quero que ele me faça dele, ele dizer-me, nos mesmos sinais, que me deseja e eu mostrar-lhe que é impossível… ali, naquele momento. Adiar a concretização de um desejo é ter poder. E isso, francamente, é libidinoso”. Mereci um comentário estranho: “os trinta anos apimentaram-te, amiga!”…

Não sei se é fiel à verdade o comentário desta minha querida confidente, mas, na verdade, a sexualidade é a parte lúdica da vida. Não que a encare como piada ou entretenimento, longe disso (aliás odeio piadinhas de cama e na cama!) mas sim como um jogo. Entusiasmamo-nos na novidade de cada patamar, mas uma vez obtida a vitória estamos sempre ávidos das armadilhas e truques que nos reserva o patamar seguinte…

Uma vez, dancei para um homem deslumbrante numa discoteca muito em voga.
Foi uma saída de grupo. Nessas saídas a parte glamourosa do grupo (entenda-se, as mulheres) iam dançar enquanto a parte séria e pé de chumbo (entenda-se, os homens) iam para junto do bar conversar ou beber, ou fumar, ou sei lá o quê (provavelmente dar azo às seduções natas que também neles reside). A música era um feitiço. Quando esta me prende eu transformo-me e entrego o corpo aos sons, à energia, à vida e esqueço-me das regras, do “dançar com regras”… Sou assim porque me acho feliz na plenitude das sensações e a música, definitivamente, liberta-me! Naquele estado de voluntária e desejada alienação apercebi-me de um homem na pista. Distinguia-se pela forma física, pela roupa discreta mas criteriosamente escolhida tão discreta tanto quanto os movimentos que imprimia ao corpo contrariando a agitação imposta pelos sons latinos da música. Eu, como sempre, estava rendida à música. Mas fitei-o. Ele sorriu-me. Há mensagens decifráveis sem margem para dúvidas. Ele desejou-me. E eu, apeteceu-me. Não esbocei um único sorriso indutor de qualquer convite, mas fiz-lhe perceber que dançava para ele. E ele sedutoramente não saiu do seu lugar, como se tivesse percebido que detesto que precipitem os momentos e, sobretudo, que me dêem por adquirida nas vontades e nas atitudes. Distantes e indómitos nos intentos. Eu dançava, ele via. Eu fitava-o, ele seguia-me nas formas, nos movimentos sem afastar o olhar.
No momento exacto em que se impunha a aproximação, apareceram na pista os homens do grupo e, entre eles, o um amigo que era o menos pé de chumbo. Instintivamente puxei-o a mim e dei a entender que seria meu nnmorado enquanto a mão passeava pelo outro lado do pescoço e descendo pelo peito, serpenteando as costas, chegou ao rabo. Não tirei os olhos do meu observador.
E, pela primeira vez, sorri-lhe, impossibilitando-lhe assim o desejo que lhe provoquei...

Feitiços desejados...

terça-feira, 8 de junho de 2010

A propósito de uma citação perdida algures no mundo “googleano”…

"Eu aprendi com a primavera a me deixar cortar e voltar sempre inteira"

Cecília Meireles

Quando li esta maravilha senti-me arrebatada por um snrtimento de afinidade, de pertença, numa espécie de irmandade de emoções.

Depois de podada, cortada, espontada, ferida, decepada, a flor brotará sempre e inteiramente mais linda e forte!

Assim me sinto: uma mulher forte, inteira e, obviamente, linda!

Depois de em tanto acreditar e, por isso, me dedicar em jeitos de romances bucólicos ou filme de fazer chorar a calçada, decidi que o último corte deveria servir para me dar um novo porte, uma nova forma, uma inabalável força para enfrentar um aspecto importante da minha vida: os afectos e as relações ou, mais concretamente, os homens da minha futura vida.

Daqui a fazer uma declaração de princípios foi um passo novo (até mesmo radical!) mas, nem por isso, menos intrépido!

Assim, declaro o seguinte:

Fim do romantismo e bla bla bla de filmes. Uma relação é um processo de aprendizagem em fase da faculdade e como nunca fiz flores e corações nos apontamentos de Direito Fiscal terei que, neste contexto, estudar muito bem as deduções à colecta a fim de obter um bom reembolso.

Foi o quanto me apeteceu escrever neste momento ainda que esteja ciente de que comecei com uma belissíma citação e terminei com um pensamento de almanaque!

Sorrisos com um travo de doce veneno

quarta-feira, 26 de maio de 2010

... momentos...

"""

Esperei-te na ânsia dos ventos teus que envidam a embarcação das emoções minhas, mas nem uma brisa senti...



No teu silêncio desoriento-me sem saber como poder atracar em ti... Sim!! Atracar, em todo o sentido figurado da palavra ...
Atracar as emoções, enlaçando-te o corpo qual corda, âncorando-te a voz com sussurros prometidos, flutuando-te nos toques que adivinham entregas, permanecendo-te nos cheiros conhecidos mas ávidos de novas inspirações...

Sopra-me....

"""

terça-feira, 25 de maio de 2010

...


... Ontem refugiei-me no meu local predilecto: frente ao Mar...

É verdade que não é qualquer Mar que me acalma mas apenas o Mar destas praias do Norte...

Negro, velho, cansado na teimosia do desgaste dos austeros penedos, sinto-lhe sabedoria e maturidade para ser meu confidente destes meus estados nostálgicos. A alma só é revelada (ainda que efemeramente) a confidentes eternamente silenciosos...

No enleio da maresia e das danças das gaivotas, já quase enrolada no movimento das ondinhas de maré baixa, ouvi-me, encontrei-te e dei-nos asas...

segunda-feira, 24 de maio de 2010

... fragmentos de mim...


Escarlate, rubro, vermelho, encarnado...


Gosto desta cor que me transporta para a Vida num pulsar de respiração ofegante, sangue, quente, beijos, coração, abraços, gestos, impulsos, abraços, apertos, gritos, sorrisos, gemidos, abraços, prazeres, olhares destemidos raiados chorados irados... Paixão!

Como eu gosto do vermelho cereja ameixa maçã desta minha blusa de cetim.

Cetim... ah! tecido dengoso, lânguido, atrevido, insinuando o desejo de ser tapete (vermelho) das tuas mãos firmes, impetuosas e intrépidas na descoberta da (minha) pele escondida e tão ávida de ti...

quinta-feira, 20 de maio de 2010

sem título....

Não tenho tempo para grandes e elaborados textos até porque hoje foi um dia cansativo (muito cansativo!) mas impunha-se uma palavra antes de o tal dia cansativo terminar:

EU AMO OS MEUS PAIS, por serem meus pais mas, muito mais, por as pessoas que eles são...

Hoje, depois de tantas tropelias e aventuras e tensões e alegrias, vê-los sentados num murete, lado a lado, a conversar o resultado de uma consulta médica, partilhando a felicidade das boas novas, como se dois jovens namorados fossem, foi a visão do que é (se existir) o Céu...

Confesso -aqui e agora- que -lá e e naquele momento- me detive alguns segundos a vê-los. A serenidade e a doçura eram uma espécie de bolha que eles construíram, impuseram e assim ali se protegeram num cenário de dezenas de pessoas no vai-e-vem da vida de um hospital... E sorriam-se. Como só sabe sorrir quem tem mais de meio século de cumplicidade e vida partilhada... Fui invadida por uma paz inexplicável e pela certeza de que não mais poderei amar alguém assim, com esta intensidade...

Um dia se eu for mãe e parte de um casal integrando essa realidade de "PAIS" irei lutar para ser, no mínimo, metade do que eles foram e são para mim...

Um beijo com o feitiço de uma filha que sempre teve a honra de ser "alvo" de um sentimento mágico....

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Momentos doces...

Eu gosto dos dias longos.
Destes fins de tarde arrastados, numa brincadeira do dia com a noite cada um exibindo a força dos seus Astros: a Lua impondo a sua escuridão e o Sol que não quer deixar o seu trono de luz. Tudo num cenário de onde exalam já os cheiros do saudoso verão…


Hoje dediquei-me às minhas lides académicas e reencontrei-me com o meu escritório, espaço cúmplice por excelência quer pelo tempo que aqui passo, quer pelos livros que me rodeiam e que são pedaços da minha vida, quer ainda pela música que só aqui ouso ouvir, tão escondida que estou do mundo e tão exposta e a mim mesma…

Nestes fins de tarde abro as duas janelas, de par em par, permitindo que os cheiros do monte que se espraia frente ao meu prédio me invadam num desafio traquina à concentração exigida por um texto sobre direitos humanos…

Confesso: entreguei-me completamente quando resolvi buscar um chá de erva príncipe, fresco na medida exacta… afundei-me na poltrona, deixei viajar o olhar e fiz-me acompanhar de Djavan, outro cúmplice destas viagens deliciosas…

Fui, sem Tempo ou Espaço.
Numa verdadeira alienação parece que toda a minha existência física deixa de fazer sentido e seduzo-me pelos guiões da imaginação, realizados pelo soberbo Desejo, mestre das melhores filmagens das nossas vidas…

Onde estive, quem fui e quem “me recebeu” é coisa inconfessável...

Mas, uma vez regressada, e no ímpeto de aqui deixar registado um momento, um doce momento, sem que encontre qualquer razão para que me apeteça tal partilha, acabo por ver que afinal houve entregas que mais não foram do que fruto de veleidades minhas …

Feitiços adocicados....

terça-feira, 27 de abril de 2010

registos...


""
... Enquanto seguia firme nos passos, apesar da pesada herança das moralidades, soltei os cabelos imaginando os teus dedos neles perdidos no arrojo de um beijo.


De um beijo que me reclamaste e que, na hesitação minha, me roubaste.

Os lábios sentiram-se, reconheceram-se, sem nunca antes se terem sentido...

As línguas obedecendo aos comandos do desejo, da novidade, exploraram o inexplorável.

Não me lembro onde estivemos, que horas eram... creio mesmo que me perdi de quem éramos..

Não! Não sonhei. Éramos tu e eu, unos e um.

Depois de tantas palavras só se ouviam, no silêncio de sons, os gritos dos sentidos. O toque e o sabor eram reis. Impuseram-se no caos por ordem do Desejo há muito postergado, abafado, contido, aprisionado...

Podem os lábios sentir dor de saudade? E os cabelos crescerem como que buscando dedos ausentes? E pode a saliva ser um choro calado da língua? Haverá dormência de dedos no vazio do que se tocou?...
                                                                                                                                                            ""

segunda-feira, 26 de abril de 2010

...Hoje acordaram-me...

( Paula Rêgo, "Target Thumb". Escolhi esta pintura porque me evoca exposição, rendição )


Deambulo com um pé na luz e outro na escuridão.
Dão-me risos e sorrisos quando mereço esgares e raivas.
Sou o que não sou,
E não sou o que sou.

Mato o que não sou e esventro-me, como quem dá à luz, o que sou.
Neste limbo em que a unidade se fragmenta cultivo clandestinidades,
Perco-me ébria nas emoções, encontro-me triste nas razões.

Não mostro o que sou
E mostro o que não sou:
Mostro alegria e não sou vida,
Mostro liberdade e não sou força,
Não mostro que sou falsa na felicidade...

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O fim pelos inícios.... ou o início do fim

Hoje
Tombei!.. E assim
Jacente Minh’
Alma neste
Hiato
Temporal,
Já não sou
Ávida de
Halos
Teus. Na minha
Jovial
Ânsia de nós, a
Hidra que fomos
Trouxe-a eu tantas vezes
Jazida no silêncio contra
As
Hostilidades
(in)Trépidas
Janotamente ditas
As “Morais”...
Hirto no silêncio
Te sinto e, assim,

Ausente tu de mim, as
Horas vãs e de dor
Tenho-as sãs (pois que seco é este)
Jorro que foi de
Amor...

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Selvagem e Primitivo....

"Selvagem e primitivo..."

Mas como raio pôde ele dar como adquirido que ela quer sexo "primitivo e selvagem"?... "Atrevido" é a palavra que lhe assalta o léxico da compreensão das poucas sms que trocaram.

“Sexo primitivo e selvagem”. Deitou-se e acordou com a expressão e com a idealização em imagens dos comportamentos, dos enlaces, dos gestos de um fim-de-tarde de sexo primitivo e selvagem.

Quedou-se a observar o seu corpo enquanto a água quente disparada do chuveiro acordava cada poro da sua pele recém acordada. Normalmente, a rotina e a vulgaridade retiram a este ritual do banho a contemplação do corpo. Os minutos são escassos e o dia começa sempre a correr.

Mas não nessa manhã. Colocou no “puff” o gel de algas, cremoso e de aroma fresco e, sorrindo, transfigurou o puff e o gel em mãos e polpa de dedos e percorreu o seu corpo, molhado, quente, acordado, vivo e reactivo… (“sexo primitivo e selvagem” … mas porquê assim?) …

A partir daí, o mais banal objecto que percorresse as suas curvas acentuadas de mulher era imaginado como mãos, braços, lábios… e sorria da sua viagem conduzida pelos desejos.

Cremes e perfumes e outras fragrâncias usuais e veste-se. O vestido de malha, largo e justo nas medidas exactas, e os collants pretos de ligas não foram escolhas inocentes, inócuas, vazias de sentires. Domina ainda a força do desejo e, desta vez, o desejo de que, por arte das circunstâncias, ele lhe aparecesse no trabalho (“selvagem” encerra em si o inesperado e o incontrolável).

Saiu à rua segura de que o passeio e a estrada tinham traçado caminhos só para ela, de tal sorte que caminhar e conduzir eram gestos autómatos…

“Selvagem e primitivo”… como música que fica gravada e repetidamente surpreende a rotina…

Entregue a esse doce estado de hipnose, não poderia adivinhar o que o dia lhe reservara…

terça-feira, 20 de abril de 2010

Loucura em livro reflectida em Loucura real ... (à falta de melhor ou mais inspirado título)

Convenço-me de que, afinal, reclamar o estatuto de mulher é grito esvaído de som ou eco.

Uma vez postergada a Razão, alada no dorso do Silêncio, uma vez acordados os sentires do leito em que serenavam, danço as melodias da vida, num mundo só fantasiado pela inocência de uma criança… Tão embriagada pela novidade do momento já tantas vezes vivido, trôpega na imensidão de cores que me pintam os cenários, não vejo que estou sozinha…

Sim, sinto-me só depois do acordar...

Apesar do quanto me rodeia, do quanto me querem, do quanto preencho, há silêncios, clausuras, recolhimentos que me arrumam na Solidão, mundo onde não se percebe outra linguagem que não seja a mudez, onde o que se vê é cego, o que se sente é vão, onde o que se quer é negado…

Hoje estive assim… mas já não estou assim…

(novas leituras empurram-me para esta “Loucura”, tão intrigante quanto a de Mário Sá Carneiro… )

quarta-feira, 14 de abril de 2010

... muda...

Há autores que abraçam certos estilos literários quase labirínticos de tão dificil se torna apreender o fio condutor da trama.

Há leitores pacientes, persistentes ou até mesmo teimosos que, apesar do tédio ou incompreensão inicial, não desistem. Umas vezes movidos pela avidez da literatura, bem avaliando que qualquer livro merece ser lido, outras pela presunção de que se trata de um autor nas bocas do mundo e -querendo ser intelectualmente valorizado pela escolha literária- lá insiste, apesar do tédio e da incompreensão.

Ora António Lobo Antunes é um autor difícil.
Rendo-me às crónicas dele na Revista Visão, (claro que já me tinha rendido seu charme de sessentão de olho azul mar... mas isso são contas de outro rosário). Aconteceu-me, porém, que, enlevada pela magia do título "Um dia hei-de amar uma pedra" iniciei-me na leitura deste autor contemporâneo, uma vez que nada dele ainda tinha lido. Confesso que não consegui sair das primeiras cinco, seis páginas... Está lá para outro dia ou para outro estado emocional mais empático já que acredito que os livros, tal como as pessoas, ou me cativam à primeira ou então adivinha-se luta morosa...

Tudo para dizer que Lobo Antunes me merece uma leitura com outra disposição. E merece por duas razões, sem qualquer ordem de prioridade entre elas. Merece então porque, de facto, as crónicas dele são deliciosas e merece porque li algures esta citação retirada do romance "A ordem natural das coisas":


"Amo-te com a infinita, extasiada piedade da paixão, amo-te quando suas no teu sono e eu bebo cada gota de ti percorrendo-te poro a poro com a avidez da língua."

Sem palavras... já que estas me emudeceram...

Beijos enfeitiçados por um certo Lobo...

domingo, 11 de abril de 2010

... a ânsia do Verão..

... Já aqui me mostrei como absolutamente rendida ao mar...

Hoje o estado de rendição foi tal que me deixei abraçar pelo Sol (meu Rei Astro) enquanto caminhava em passos firmes e ao som das música do Ipod ...

... Esqueci-me do bronzeador, coloquei a roupa de treino adequada ao calor que fazia e segui tendo como companheiros o mar e o sol....

... caminhei cerca de uma hora e trinta minutos num percurso de 8 Km esforço compensado pelo horizonte quando finalmente me deitei na areia...

De facto, foi uma caminhada deliciosa ... mas o Sol entrou na pele e agarrou-se a mim, num gesto de avidez pelas saudades ... E lá fui comprar a loção after-sun calmante ....

Senti o Verão, finalmente!!! .... )))

Beijos e feitiços estivais ...

quarta-feira, 7 de abril de 2010

( textos do meu baú... este mantém-se tão actual nas emoções que espelha)

Estou no termo do meu ano de 30º aniversário. Presumo, pela ordem natural da vida, que ainda me faltem uns bons anos para andar por cá a azucrinar e a mimar quem se cruza e faz parte do meu caminho mas, daqueles que já vivi, este último primou pelas lições de vida.

Recordo-me agora que há um ano, no pueril desejo a pedir ao som de estridentes e sentidas palmas e enquanto se apagam velas orgulhosamente embandeiradas em lascas de chocolate, sorri-me interiormente e pensei nos presentes do Presente.

Senti-me plena. Madura. Mulher. Pela primeira vez na minha vida me senti assim.

Poucas semanas depois desenrolou-se a aula da vida. Entre uma gravíssima doença de alguém que me é muito querido e outras coisas que, apesar de minimizadas por esse facto, não deixaram de me trazer novas vivências, percebi o quão tontos somos quando fazemos planos para a vida esquecendo de viver os planos que a vida tem para nós.


Numa sequência quase de película cinematográfica, os factos foram sucedendo, encadeados, com sentido e numa espécie de “antes, durante e depois”, de “cabeça, tronco e membros”, de “princípio, meio e fim” (no caso, “feliz”).


Por tudo isso, e olhando para trás, vejo-me como uma estante de livros desejados, comprados, oferecidos, impostos por formação, emprestados e, por isso, temporários, uns de lombadas gordas outros mais elegantes, coloridos, garridos, discretos.

Factos da minha vida comparados a livros!...

Livros que li e devorei cada página.

Livros que comecei e não me entusiasmei.

Livros aos quais me rendi e nessa rendição os releio e descubro uma nova palavra, uma nova frase.

Livros para os quais não estava preparada como pessoa.

Livros que ainda não li apesar das insistentes críticas favoráveis.

Livros que se identificam comigo mas que ainda não houve tempo para com eles viajar.

Livros que apenas foram interessantes no texto de contra-capa.

Livros marcantes, decorados nas frases, nas personagens que tatuei em mim.

Livros desejados mas proibidos.Tentadores na leitura, despertadores de vontades conhecidas mas de destinos desconhecidos. Destes, alguns nunca abertos mas outros lidos no prólogo e de imediato protelados para outros lugares e momentos de leitura livre, desprendida...

Sim, apesar de tudo e por tudo, continuo a sentir-me uma mulher plena no livros lidos e no desejo de ler os que ainda me aguardam na estante da Vida...

Beijos...

sexta-feira, 26 de março de 2010

Finalmente: o Jantar é hoje!!!

Depois de 500 mil desculpas e adiamentos e bla blas é hoje que eu vou fazer a minha colecta.

A amizade é tão bonita ... ))

terça-feira, 23 de março de 2010

Recantos da memória... dele...

"Aquele maço de cigarros inerte, doença em potência mas, ainda assim, convidativo pelo doce cheiro das folhas secas por queimar, era o refúgio do meu olhar enquanto ela me arremasava umas quantas verdades... (Como ela ficava desejável nessa sua intrepidez dessas suas razões!!)

A sala estava higienicamente mobilada albergando apenas a intenção decorativa de um gabinete de trabalho. Só uma mesa longa se nos interpunha já que tudo em nós se imbricava apesar das tuas verdades.

Essas recebiam de mim um cabisbaixo e anuente "eu sei", "não sei", "pois...".

Recordo-me do quanto desejei que nada existisse: apenas nós, sem circunstâncias de tempo, lugar, estados civis, compromissos... Que a nossa vida fosse um doce romance em que tudo é viável nos caprichos manipulativos do autor.

E foi nesse desejo que, de repente, nos vi enlaçados (as verdades hirtas, frias, impeditivas esfumaram-se) nos braços e nos beijos um do outro. As bocas incansáveis buscavam recantos inundados de desejo, as mãos sondavam medidas já reconhecidas mas sempre novas a cada passagem. Os olhos, persianas de média luz, viajavam sem rumo. Os corpos agora rendidos aos comandos das emoções ditas, prometidas e incontidas são CORPO, de tanto se sentirem reflexos reflectidos reflectores...

Assim me lembro de ti quando quero esquecer-te..."

sexta-feira, 19 de março de 2010

O meu Papá...

Papá….

Há uns tempos atrás descobri em mim que a escrita me faz bem no justo papel de ser portadora e reveladora das minhas emoções, sejam elas boas ou tristes, intensas ou serenas…

Entretanto, rendida que me vi à era da comunicação pela internet criei este espacinho onde me quero revelada ou escondida conforme os meus apetites. É certo que se trata de um meio de (constrangedora) exposição pública mas, ainda assim, de possível intimidade dado que só poucos (e muito bons) sabem quem verdadeiramente é a Feiticeira…

Portador e revelador de emoções minhas, não podia deixar de fazer deste Blog o meu cúmplice neste tímido tributo a ti, neste dia teu que, afinal, é só mais um dia em todos os dias que sempre, desde que nasci, foram teus: O Dia do Pai…

Papá…

Sempre que me apetece dizer-te coisas bonitas na tentativa de fixar-nos num quadro perfeito de Pai e Filha dou comigo a rebuscar imagens no meu baú de (tantas!!) memórias boas. Enredada que aí fico quase se torna tarefa complicada eleger uma delas e, dessa forma, erguê-la ao pódio de “Imagem Perfeita”. Quase, digo eu porque, na verdade, na abundância das boas memórias há uma que desde sempre e sempre se destacou das outras: tu a convidares-me para dançar e eu, com ainda sem meia dúzia de anos feitos, exultante, a aceitar; e tu agarravas-me nas mãos, eu subia aos teus pés, orgulhosamente empoleirada; e nós, alheios a tudo e a todos, sobranceiros que estávamos num harmonioso equilíbrio espelho do que verdadeiramente sempre fomos como Pai e Filha. É este o nosso quadro perfeito!...

Podia aqui ainda falar-te das outras memórias boas: do quentinho que invade o meu coração quando te oiço falar das tuas aventuras e desventuras políticas, do orgulho que sinto pelo homem de luta que sempre foste, da tua capacidade de resistência e resiliência em prol da família; da gratidão que te tenho por seres o meu fã número Um (e desde pequenina!). Podia revelar-te como tantas vezes pauto o meu sentido de vida para estar à altura das tuas expectativas, dos teus sonhos, dos teus projectos e como , todas essas vezes, percebi que, afinal, “só” desejas a minha Felicidade, que sempre respeitaste e acreditaste nas minhas escolhas… Como esquecer-me ainda da tua ternurenta paciência no ensino da condução? Lembras-te, Papá? Ou então o Homem que foste quando, completamente desfeita, te dei conta da mais difícil decisão da minha vida. Outra memória mais recente: como te tornaste um homem (mais) amoroso nesta fase dócil e serena da vida…

Que Pai maravilhoso sempre foste e és e serás!

A quem me lê, para além do meu Papá:

O meu Pai é um homem extraordinário.

Nunca lhe conheci azedume, contrariedade, desistência ou qualquer sinal de negativismo. É um ser humano dotado de um sentido de humor inigualável, de sorriso fácil e com um sentido positivo da vida. É um ser humano solidário e sempre lutador pelos direitos dos outros, fundamentalmente quando estes eram oprimidos e até postergados. É um homem doce, afável. Um homem culto, curioso, não resignado às evoluções. É um Pai atento, cuidadoso. Um Pai que lutou para dar aos filhos valores, afectos e formação.

Não há maior satisfação do que perceber e sentir, sem sombra de dúvida, que este meu reconhecimento está protegido de qualquer mácula de tendenciosidade já que o Meu Pai é assim visto por todos o que com ele tiverem e têm o privilégio de conviver.


Papá… vou amar-te sempre e sempre com este carinho e ternura imensuráveis.


Feliz Dia, Papá!

terça-feira, 16 de março de 2010

O desencontro, de novo...

O meu esquema mental sobre “NÓS” tornou-se um verdadeiro labirinto…

(ao enternecimento, seguiu-se, de novo e sempre, a implacável ausência. Jaz, pois, aqui, o seu desabafo em tempos de vazio...)

Dizem que saber esperar é uma virtude, que a pressa é inimiga da perfeição, que depressa e bem não há quem, que quem espera sempre alcança...
“Dizem”... essa entidade que proclama pensamentos cliché, lugares comuns enfadonhos e se esconde numa aparência balofa de Guru do Sentido da Vida…

A verdade é que os clichés confortam quando estamos no tempo deles e com eles nos identificamos.

No meu caso, no nosso caso, esses lugares comuns são irritantes, arrogantes e até petulantes ante a confusão que se instalou na minha perspectiva e percepção desta nova (angustiante e interminável) fase da nossa relação. Ou deverei dizer “relação” enfatizando a diferenciação, anormalidade ou irrealidade que o uso das aspas implica? Pois bem, parece-me justo que eu escreva “relação”. E sabes porquê? Porque efectivamente, não há relação.

Nós não temos uma relação.
Temos afectos, afinidades, sentimentos, uma história mal resolvida, pseudo-concretizada. Temos hiatos de tempo entre nós, outras histórias, outras vidas, outros afectos… Temos vontades, desejos, projectos adiados, incessantemente adiados…

O nosso único e indefectível património comum é o Tempo… os dias, as semanas, os meses que todos se converteram em anos…

E se já nos confessamos arrependidos desse tempo que passou e, portanto, tempo perdido, porque não te mereço hoje um sinal? Uma leve mas indelével presença? Uma interrupção nesse silencio? Será que te assustei e afastei? Será que, afinal, não temos vontades, desejos e projectos e estes mais não são do que meras realidades minhas, numa solitária singularidade?...

Tantas coisas me disseste e escreveste no contexto da impossibilidade, sereno e confiante da tua privacidade. O que mudou? Melhor: essa mudança implica essa estanquidade? Exige essa fuga? Esse isolamento? E se sim (admito), exige nessa medida absoluta?...

A espera é verdadeiramente horrível quando não se tem nada no horizonte que permita estar-se à toa dos acontecimentos e ainda assim com rumo…
Estou sem rumo e sem timoneiro apenas com os despojos de memórias cada vez mais longínquas…

O vazio é mais vazio quando o que se deixa(ste) vago é um lugar exclusivo, singular, especial, próprio, devotado a um sentimento…

Dizer-te "Amo-te, perdição..." tornou-se mais salvador para mim do que reconfortante para ti...

sexta-feira, 12 de março de 2010

A transparência de aquário....

“Foi assim que interpretei. Sugere-me uma reconciliação, ainda que fortuita, efémera.” Ao que retorqui: “Nada disso. É um texto ficcionado. Engraçada essa tua primeira impressão do texto…”


Esta forma cibernáutica de “comunicação” tem um quê de interessante ao mesmo tempo que lhe vislumbro a fragilidade da ausência física.

Não há palavra, por mais rica, rebuscada, literária, estilística ou metafórica, capaz de substituir o manancial emotivo de uma expressão facial, de um som, de um gesto.

Contudo, a evolução dos tempos ditou que as amizades forçadas a serem à distância podem manter-se activas e presentes por virtualidade dessa tal forma cibernáutica. Assim, nos amigos distantes que quero presentes, lá vou trocando mails, frases nos canais de conversação ou, mais recentemente, nas redes sociais. Os tempos e a falta deles até já preteriram o “moderno” telemóvel…

Foi precisamente numa dessas conversas de net, com um bom e velho amigo, distante apenas pela força centrífuga das rotinas, que me surgiu o mote para a reflexão: afinal a transparência que muitas das vezes julgamos ser(mos) mais não é do que o vidro de um aquário em que nos deixamos ver sem saber como estamos a ser vistos. Mais: presumimos (e não abdicamos) que os outros só nos podem ver tal qual nos queremos apresentar. Afinal não é essa a essência da transparência?! …

Hoje percebi que não é assim. Claro que esta reflexão assenta neste episódio concreto da conversa com o meu amigo Nuninho mas deve ganhar uma dimensão extrapolada para um contexto de generalidade.

Um blog é um espaço neutro, inócuo, vazio. Molda-se às pretensões dos seus autores e veste-se à medida suas das finalidades e propósitos. Vemos na dita “blogosfera” uma panóplia pluriforme e pluricolor de espaços que sendo, muitas das vezes de foro individual, assumem pois uma exposição incomensuravelmente pública. Quantas e tantas das vezes, numa espécie de paradoxo existencial, os autores mostram ao Mundo precisamente o seu mais secreto e íntimo mundo garantidos que se encontram pelo anonimato de alcunhas, nicknames e perfis falseados…

Outras quase tantas vezes, vemos blogs de cariz informativo, político, manifestações de cidadania, meros diários, pontos de encontro, divulgações…

O meu blog serviu-me no propósito de divagar…

Sou assumida e confessadamente uma divagante nata. Daí a criar um blog onde pudesse dar largas à divagação foi um passo tímido e em muito dado por instigação de uma adorável amiga que, na coerência de me achar a personificação da hiperbolização na perspectiva da vida, vislumbrou um blog como o complemento perfeito dessa minha faceta.

Blog criado, blog publicitado aos amigos mais íntimos. Daí que o anonimato da Feiticeira esteja, em parte, e numa adorável parte, precludido, afastado, comprometido…

Textos postados, textos comentados no espaço próprio e até em conversas de café, restaurante e telefonemas entre mim, a Feiticeira, e os meus leitores amigos identificados…

Mais inspirada, menos inspirada, lá venho divagando.

As minhas divagações têm assentado, invariavelmente, em episódios reais. Admito que a minha escrita (divagação) flui melhor se despoletada por um acontecimento real. Recordo-me aqui da minha “obra-menina-dos-meus-olhos”, Diário de Uma Despedida de Solteira, que tanto prazer me deu (fundamentalmente por ser um presente para a Monique, a minha querida Monique).

Mas, prevendo um eventual período de escassez de factos-mote, recentemente equacionei a possibilidade de escrever (divagar em) textos de pura ficção. Tarefa, à primeira análise, hercúlea já que não me sinto com capacidade criativa sem referência a casos concretos. Mas como também sou “tinhosa”, teimosa, caprichosa (costelas de Escorpiana), lá me iniciei no ficcionamento. Pensei numa mulher e num homem, numa relação cujos contornos ainda não sei definir e “apanhei-os” num momento dessa relação… um momento de desencontro e encontro e desencontro, de novo. E escrevi.

Atendendo ao comentário do meu amigo e que impulsionou a presente “statement”, impôs-se-me, agora, fazer a ressalva que se faz nas novelas e filmes e afins:

Dos textos de ficção aqui publicados, qualquer semelhança com a realidade, trata-se de pura coincidência não se responsabilizando a Feiticeira pelas interpretações secundárias e danos colaterais que os mesmos possam provocar nos seus leitores.

Da Feiticeira, mais real que ficção para quem efectivamente merece.....

quinta-feira, 11 de março de 2010

Clandestinidades em jeito de conto

Aquela música, naquela manhã, àquela hora, enquanto se dirigia para a Estação, foi como que um sinal.
E logo com ela, que na sua visão "pluma" da vida, achava um quê de mágico -e até de realidade- nesses "sinais". Em jeito de conspiração do Destino ela valorizava a ocorrência (coincidência?) de certos factos em determinados momentos e lugares, embora sempre negasse os fenómenos transcendentes. Costumava rir-se desta sua faceta adolescente e desdenhava até de quem se dedicava a seguir os ditos sinais. Mas a verdade é que titubeava sempre que isso acontecia consigo.
A música (e logo aquela!) era, pois, um sinal sussurrando que devia ligar-lhe e dizer: "hoje vou aí!". Mas hesitou.
Sempre segura de si e dos outros estava convencida de que o seu silêncio, imperador e dono dos tempos últimos, não seria quebrado. Como podia ele estar tanto tempo sem saber de si?....
O Sol também era um sinal.
Rasgando os tímidos mas, não obstante, insistentes farrapos de nuvens, impunha-se na luz e no calor. Era uma figura da força da Natureza e, seguindo-lhe os passos, ou melhor, os raios, encorajou-se e mandou-lhe uma sms. De teor formal, franco e seco deu-lhe conta de que dentro de uma hora estaria perto dele. Exultou quando teve resposta! Igualmente formal, franca e seca: “Vou ter contigo”.
Desse segundo em diante foi arrebatada pela ansiedade.
Queria dizer-lhe, olhos nos olhos, um ensaiado Adeus, dizer-lhe o quanto ele não merecia as emoções que lhe dedicava, arremessar-lhe umas quantas frases cliché tão apropriadas a discussões onde as vontades se querem intrépidas. Ou então... enternecer-se quando os seus olhos encontrassem os dele, entregar-se à languidez característica de quando se mata saudades...
E o tempo não passava, a distância não encurtava.Volvidos minutos que pareceram horas e horas que pareceram dias, chegou ao destino. O local de encontro, entretanto acertado por outras mensagens sempre formais, francas e secas, era descaracterizado, movimentado, atribulado pelo vai-e-vem de pessoas vestidas de anonimato. Um cenário nu da carga emotiva que o momento reclamava.
Num rápido olhar, não o encontrou. Desta vez decide ligar-lhe (às malvas com as mensagens!!).
Concurvada sobre o telefone, qual espia na mais secreta missão e na inglória tentativa de filtrar os sons da cidade e das gentes a fim de ouvir quem do outro lado da linha queria falar, apercebe-se de um vulto ao seu lado... dos pés sobe o olhar e eis que encontra o olhar desejado e o sorriso arisco...
Enterneceu-se... e, assim desarmada, devolveu-se a ele e sorriu-lhe (há rendições que, de tão prazerosas, têm um custo que só o Tempo é legítimo cobrador...)

terça-feira, 9 de março de 2010

O Abraço dos Afectos...

(ao cabo de um dia de arrumações no meu espaço cúmplice lá de casa, o escritório, encontrei alguns textos que escrevinhei há uns bons três anos... Este é um deles.)


Na verdade, sempre vi a vida idilicamente.
Sinto-me abraçada pelo manto da visão sonhada. Nunca acreditei em Deus ou deuses, em anjos ou forças divinais e (ou) demoníacas(!!), mas o que se me apresentava como transcendente, eu não compreendia. Dizia “fruto da imaginação”, “e se, de repente, isto acontecer?” ah! E ninguém me segurava no devaneio…

Numa clarividência subtil (que paradoxo!) percebi que essa força transcendente e alienante era nada menos que o Amor que sinto dentro de mim…. A Alegria que mora em mim… Sim! Sou uma pessoa amada, amante, alegre e alegrante… e o calor que me invade em certos momentos é tão reconfortante e forte que o meu corpo, mesmo que robusto nas formas e substância, torna-se impossibilitado de conter tanta vontade de dar…

Ainda que (as gentes d) o Mundo seja cada vez mais feroz, intrépido e voraz não abdico da energia que os Afectos têm! São eles que nos conferem humanidade, pessoalidade e quanta força!!

Escrevo estas palavras ainda emocionada pelo abraço de um amiguinho meu.

Hoje, ao cabo de alguns dias de ausência, ele viu-me! Não sei onde arranjou tanta destreza naquele corpinho rechonchudo para correr até mim. Não fosse o Sol uma força da Natureza e diria que a luz daquele momento vinha do sorriso do meu amiguinho saudoso… o abraço foi arrebatador na intensidade, na franqueza, na alegria.

- “Já estava cheio de saudades tuas! Nem imaginas a novidade: Deixei a Ritinha! Tinhas razão! Ela não me merecia!” Que esforço o meu para não rir ante a determinação inabalável daquele meio metro de gente e com quase meia dúzia de anitos! Contive-me e disse-lhe:

- “Desde que estejas feliz, eu estou contigo! Vais ver não te faltarão namoradas!”
- "Achas?" - perguntou ele com uma expressão plena de dúvidas, ansiosa de respostas reconfortantes.
- "Claro que sim!" - e fitei-o intrépida no sorriso que lhe devolvi como quem lhe diz podes confiar em mim e tudo correrá bem.  Ele abraçou-me como um sorriso ainda maior que o meu...

Os olhos dele cantavam melodias só audíveis pelo estetoscópio do afecto que lhe tenho! De facto, dar afecto é bom, receber afecto é bom, mas quando há efeito boomerang a sensação é inexplicavelmente deliciosa…

Momentos destes, ainda que pontuais, justificam e explicam sensações de transcendência e omnipotência. Somos imbatíveis e não há moínhos que nos detenham!

Por isso, e porque a singeleza é tantas vezes sinónimo de imensidão, me apetece gritar apenas: vivam os afectos!!!

(O texto original terminava aqui. Este amiguinho é o Paulinho, que hoje e desde há muitos anos, por força do separação dos pais, foi viver com o pai para a Suíça. Tenho muitas saudades dele mas vou tendo notícias de que está um rapagão. E porque os Afectos, quando fortes, sobrevivem às ausências, deixo aqui um beijinho muito especial para ele no desejo de que o Mundo lhe sorria sempre... )

Feitiços de Afectos...

segunda-feira, 1 de março de 2010

E eu lá sou mulher de fugir a reptos?? ( a repteis sim!!!... apre!!))

Encontrei na minha caixa de correio o seguinte mail, em jeito de desafio: caracteriza-te em seis palavras e manda aos teus amigos nas próximas 24 horas. Se eles concordarem em três das seis és uma pessoa de sorte. (Será que estas correntes de sorte querem dizer "ganharás a Lotaria, o Euromilhões e ainda um McChiken com Coca-cola 33cl"??!!)

Aceitei o desafio e lanço aqui o repto a quem me lê e é minha/meu amiga/o. Assim, cá sou eu:

Familiar – tirem-me da minha prole e não me reconhecerei.
Amo e revejo-me nos meus pais, nos meus irmãos, nos meus sobrinhos e nos meus queridos tios... Se bem que aqui queira deixar mais vincado o sentimento afectivo pelos laços de sangue, incluo neste meu bem-estar de pertença os amigos ... tenho poucos mas são muito bons ... quase todas mulheres...


Teimosa - obstinada e casmurra!!
“Estás a ver a relação entre uma rolha e a água? A tua opinião é a água e eu a rolha ... não me afundas!!”: é a minha frase de eleição! Admito que já me trouxe alguns dissabores esta minha teimosia ... mas o balanço é positivo. Trouxe-me também muitas coisas boas na vida... Será que a impulsividade que tanto me caracteriza cabe aqui? De mãos dadas com a teimosia?? Seguramente que sim!! Sou impulsiva. Primeiro atiro e depois é que verifico a mira! .... mau, muito mau ... ihihihihi

Alegre – “always see the bright side of life”.
O riso é fácil em mim. E, talvez por isso, seja propensa a viver episódios insólitos. Acontece-me muitas vezes rir de situações cómicas que já passaram há séculos mas que provocam sempre a mesma rendição à gargalhada. E rio, rio.. Talvez aqui, nesta alegria, se enquadre também o meu lado apaixonado. Confesso que sou muito “cor-de-rosa” e que me entrego incontestavelmente à versão romanceada da vida. Tonta??!! Não! Mulher plena....

Sentimental – emotiva, manteiga derretida, meiga.
Perco-me com mimos e a dar mimos. Emociono-me com as coisas simples da vida e francamente adoro ser lamechas. Choro com quem chora, rio-me com quem ri. E a ternura enternece-me. Quando vivo um momento de plenitude os olhos inundam-se de água como se a alegria não se contivesse no simples sentir...

Distraída – não é bem distraída mas sim no mundo da lua ...
Divagações é o meu passatempo preferido e quando dou por mim, já fiz asneira!!! Ou queimei o estrugido, ou deixei a janela aberta em dia de chuva, ou não travei o carro, ou deixei as chaves dentro da porta de casa, ou assusto-me com toda a gente .... enfim ... Ah! E para lembrar datas de aniversário esqueçam!!!

Prática – não gosto de adereços, de berliques e berloques.
As coisas existem para nos servir e não para que nos escravizemos a elas. Adoro simplicidade porque nela se vê a verdadeira e primitiva essência... Nunca liguei muito aos pormenores decorativos. Além de prática, e dentro da mesma categoria, sou pragmática. Admito que, num primeiro momento tendo para o melodramatismo do tipo “só a mim é que acontecem estas coisas!” Mas, na mesma fracção de segundo, já dei a volta e já estou a tentar solucionar o problema numa postura de mangas arregaçadas porque “isto é para mim!”.

Feitiços e pozinhos mágicos a quem aceite o desafio...

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O que nos caracteriza...

A minha propensão para ser actriz (forçada) em episódios insólitos e, por vezes surreais, diverte-me!

A princípio sentia-me intrigada e a frase "só a mim" era desabafada em tom de reclamação, mas a vida comandada pelo mestre "tempo" fez-me perceber que é nesses insólitos que gargalho com mais vontade...

E assim me apetece perguntar: o tom do telemóvel pode definir quem somos? O que subjaz à escolha do toque de telemóvel? O carisma, a discrição, a alegria, a impossiblidade de silenciar, o pragmatismo, a simplicidade, a sofisticação, o modernismo, a parvoíce?

Francamente não sei...

Estava eu, de novo e como sempre, a tomar o meu pingo de meio de manhã, única cafeína que tomo durante o dia, quando se abeira de mim, junto do mesmo balcão e para tomar um café, um belíssimo homem.

Na escala dos 40 anos, moreno, cabelo curto e preto a igualar os olhos e a contrastar o sorriso de cal que lhe naceu quando os olhares se cruzaram...

Estava muito bem vestido, em tecidos alinhados e muito "casual". Os acessórios da praxe, relógio, óculos de sol, sapatos estavam a condizer na perfeição. E o perfume era a cereja no topo do bolo.

Imediatamente retomei a minha pose de "olhei-só-porque-chegou-não-porque-seja-lindo-de-morrer" e accionei de imediato a visão de mocho (equipamento de série de qualquer mulher que se preze e que, no caso, permite uma perspectiva periférica).

Naquele dia o dono do café, um senhor amoroso que, desde há cerca de alguns anos, engraçou comigo mas que nunca tem conversa diferente da de: "Olá Dr.ª, é o pinguinho não é?", ou então: "Só vai almoçar sopa?" ou ainda "Esta juventude está perdida quando calhamos de falar do meu trabalho" (bem retomando...perco-me sempre!), nesse dia o senhor amoroso decidiu conversar sobre as origens do seu negócio, diga-se centenário e com honras de consagração literária. 

O meu colega de cafeína, absolutamente convicto do seu charme de embalagem, tenta, por gestos recolhidos pela visão de mocho, aproximar-se.

Senhor amoroso que é Senhor amoroso convida todos ao acontecimento e, entre olhares para mim e para o charmoso, implica-nos naquela conversa sem interesse mas que dessa forma se tonou deliciosamente envolvente...


À margem da conversa, apenas tenho como referente daquele homem a aparência.
Talvez recolha da sua atitude a característica de auto-estima, de saber estar, de segurança e o sorriso mostrou que é uma pessoa positiva (sim! declaro oficialmente a minha rendição às pessoas que me sorriem...) mas é apenas uma dedução.

Até áquele momento digamos que o efeito "Primeira aparência" era muito positivo.

De repente, tons estridentes e altamente polifónicos de onde se percebia a música da Shakira e do Alejandro Sainz sob o tema "La tortura" abafavam as palavras do Senhor amoroso e rebentavam, qual bola de sabão, a cumplicidade involuntária que as mesmas fizeram nascer entre dois estranhos...

Era o telemóvel do homem belíssimo. Como é que era possível?!

O efeito "Primeira aparência" foi aniquilado, morto, esfacelado, triturado por aquele toque de telemóvel (até o aparelho de comunicação era lindo...)
O que levou aquele homem a escolher "la tortura"?!!

O que corresponderá à sua real personalidade: a sofistição e perfeição reflectidas na aparência física ou a indiscrição e espalhafato emanados daquele som latino e esganiçado que escolheu como toque?

Enfim, assim torturada, despedi-me do Senhor amoroso, saí e deixei o belíssimo homem absolutamente vazia do efeito positivo da aparência, enquanto este lá ficou à conversa ao telemóvel...

E já na rua pensava: "Afinal o que diz sobre aquele homem o tema de toque "La tortura"? E o que diz o "Nostalgia" sobre mim? ..."

Feitiços polifónicos...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Feiticeira Fénix...

Sou coleccionadora de emoções fortes!

Ao cabo de tantos anos e de relações rompidas percebo que está na minha natureza viver a fase das seduções, das emoções fortes, do momento inicial de cada afecto ou envolvimento….

Hoje, clara e inequivocamente, cheguei a esta conclusão: eu preciso da adrenalina da sedução, do encantamento, da novidade. Para além disso, tudo perde interesse…

Não sei se fique contente porque finalmente me faço sentido, me entendo e compreendo o que me faz feliz ou se, pelo contrário, fique preocupada porque, a assumir uma vida com esta convicção, serei eternamente uma pessoa só, comigo mesma…

Já dizia Ésquilo: “conhecerás o Futuro quando ele chegar: antes disso, esquece-o!”

Vou agarrar-me a esta máxima e viver a minha vida sem pensar no que mereço ou deixo de merecer ao nível das relações. Nem tão pouco devo prender-me a formatações de vidas perfeitas ou pseudo-perfeitas que, neste momento, me castram e fragilizam…

Se olhar à minha volta vejo que tudo se formata assim: casamento ou uniões, filhos, férias, casais, namoros... A sensação desenquadramento era quase imperativa mas acho que esta “revelação” por inerência arrebatadora e, na mesma medida, clarividente, faz-me sentir de novo enquadrada desta feita em mim, naquilo que efectivamente acho o melhor para mim…

Conquistar: ser conquistada ou ir à conquista, descobrir, criar ilusões, expectativas, projectos, viver emoções, conhecer, explorar, contar histórias e ouvir outras, partilhar, dar-me numa reciprocidade de receber…. Esta sou EU: nova, revigorada, curiosa, ávida e serena…

Venham os amores, afectos ou simplesmente, emoções boas… venham senão vou eu a elas!

Beijos com emoções endiabradas...

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Amizades em jeitos de Família Grega… ou Italiana...

Creio que não sou “peça única” ao ter a veleidade de achar que, embora o tempo vá passando, eu continuo nos idos do liceu: jovem, fresca e com o mundo à minha espera!

Confesso que essa veleidade minha mais se acentua quando me encontro com as minhas amigas do liceu (!!) para o delicioso e mensal JANTAR DE GAJAS!

Vidas vividas e revividas e organizadas e com outros actores e participantes, decidimos, já bem adultas, já bem depois do liceu, já bem depois da faculdade, que era imperativo termos um momento só nosso. Um momento só de gajas, para, em bom português, desopilarmos os fígados do dia-a-dia!

Assim, as cinco da vida airada (eu, as três Loiras: duas verdadeiras e uma falsa e a Castanho-caju-que –me-parece-ruivo) acertámos o JANTAR DE GAJAS.

Muitas das vezes é tarefa quase hercúlea encontrar consenso para as datas posto que a inicial regra de “à última sexta-feira de cada mês” revelou-se incumprida por demasiadas ocasiões. Ainda assim lá temos conseguido organizar as rotinas para dar oportunidade a esses momentos só nossos. Tão nossos que cada vez mais me parecem um ritual de irmandade.

Esses jantares assumiram-se como o palco natural de confissões: tristezas, alegrias, novidades, angústias, concretizações são as suas vestes… o riso e a lágrima, os actores principais.

E se num primeiro momento declarei a minha veleidade, é agora hora de dizer que é realmente uma veleidade achar que o tempo não passou. Sentir isso é retirar a implacável vantagem que esse "tempo que passou" teve na nossa amizade. Não somos meninas ou jovens. Somos MULHERES! E que mulheres! Vividas, com histórias, com emoções, com sentido de vida, com experiência, com doçura e amargura na exacta medida, com a maturidade do passado e a jovialidade de um futuro ainda longo…

O rescaldo deste último jantar levou-me a reflectir sobre nós. Sobre esta amizade.

Nota: ( esta foi uma reflexão séria ainda que sob o efeito devastador de sensações etílicas provocadas por bebidas caribenhas… credo, que foi aí que verdadeiramente me apercebi que os Sweet Sixteen já foram à vida há muito tempo!!)

Mensagens trocadas com a Castanho-caju-que-me-parece-ruivo e conversa fugaz com a Loira-verdadeira-sem-caracóis (nota-se que esta Loira ainda está p’ras curvas na bebida. A prática é um posto… ), olhei para os nossos momentos com um sentimento de pertença sem dimensão. Olhei-nos e vi-nos com ternura e segurança.

À Castanho-caju-que-me-parece-ruivo escrevi sms a dizer que me tinha divertido muito ao que obtive a seguinte resposta: “Eu também… Acho que somos uma espécie de família”. Recebida a mensagem, de imediato, aceitei essa imagem: pois somos!!

E que tipo de família? Sem dúvida uma família grega ou italiana: barulhenta, emotiva, cúmplice, estável… no turbilhão das vidas esta família, estes momentos, são um porto seguro, a identificação de quem fomos, de quem somos e de quem seremos, sempre!

Por tudo isto, e apesar das nossas diferenças em tudo isto, é na nossa identidade nesses momentos que reconheço a força e a fragilidade do TEMPO que passou: ele tornou-nos Mulheres mas não desconstrói a nossa aliança.

Assim subscrevo a máxima de que os amigos são a família que escolhemos e ouso ainda na seguinte adaptação: as amigas são as irmãs que escolhemos!

Beijos de amizade enfeitiçada e onde jamais venenos entrarão )))

De novo, o desencontro...

O meu esquema mental sobre “NÓS” tornou-se um verdadeiro labirinto…

(Ao enternecimento, seguiu-se, de novo e sempre, a implacável ausência. Jaz, pois, aqui, o seu desabafo em tempos vazios...)

Dizem que saber esperar é uma virtude, que a pressa é inimiga da perfeição, que depressa e bem não há quem, que quem espera sempre alcança... “Dizem”... essa entidade que proclama pensamentos cliché, lugares comuns, enfadonhos e se esconde numa aparência balofa de Guru do Sentido da Vida…

A verdade é que os clichés confortam quando estamos no tempo deles e com eles nos identificamos. No meu caso, no nosso caso, esses lugares comuns são irritantes, arrogantes e até petulantes ante a confusão que se instalou na minha perspectiva e percepção desta nova (angustiante e interminável) fase da nossa relação. Ou deverei dizer “relação” enfatizando a diferenciação, anormalidade ou irrealidade que o uso das aspas implica? Pois bem, parece-me justo que eu escreva “relação”. E sabes porquê? Porque efectivamente, não há relação. Nós não temos uma relação.

Temos afectos, afinidades, sentimentos, uma história mal resolvida, pseudo-concretizada. Temos hiatos de tempo entre nós, outras histórias, outras vidas, outros afectos… Temos vontades, desejos, projectos adiados, incessantemente adiados…

O nosso único e indefectível património comum é o Tempo… os dias, as semanas, os meses que todos se converteram em anos…

E se já nos confessamos arrependidos desse tempo que passou e, portanto, tempo perdido, porque não te mereço hoje um sinal? Uma leve mas indelével presença? Uma interrupção nesse silencio? Será que te assustei e afastei? Será que, afinal, não temos vontades, desejos e projectos e estes mais não são do que meras realidades minhas, numa solitária singularidade?...

Tantas coisas me disseste e escreveste no contexto da impossibilidade, sereno e confiante da tua privacidade. O que mudou? Melhor: essa mudança implica essa estanquidade? Exige essa fuga? Esse isolamento? E se sim (admito), exige nessa medida absoluta?...

A espera é verdadeiramente horrível quando não se tem nada no horizonte que permita estar-se à toa dos acontecimentos e ainda assim com rumo…

Estou sem rumo e sem timoneiro apenas com os despojos de memórias cada vez mais longínquas…

O vazio é mais vazio quando o que se deixa(ste) vago é um lugar exclusivo, singular, especial, próprio, devotado a um sentimento…

Dizer-te "Amo-te, perdição..." tornou-se mais salvador para mim do que reconfortante para ti...

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Na falta de inspiração, rendo-me às citações...

"Quer pouco, terás tudo.
 Quer nada: serás livre.
 O mesmo amor que tenham
 Por nós, quer-nos, oprime-nos."

Fernando Pessoa

... simples e tocante...

Afinal, mesmo antes de premir "publicar", apeteceu-me escrever.
Sem palavras elaboradas ou figuras de estilo que tanto gosto de vestir os meus textos, apeteceu-me o registo simples.

Um registo que permite desvendar, sem devaneios ou distracções possíveis, que estou desapontada comigo pelas ilusões onde me deixei embarcar ...

... Um sorriso em jeito auto-condescendente porque estas coisas de romantismo nostálgico não fragilizam a mulher determinada que seguramente não deixo de ser ...

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

31 de Dezembro - Parte II...

(retomando as sensações provocadas pelo 31 de Dezembro que mais não é do que o dia simbólico dos momentos "Virar de Página" e considerando que ainda me faltava engulipar cinco uvas passas, cá sigo eu...)

6ª Pela énesima vez dou lugar à sensação: "Este Ano vou fazer uma coisa diferente e fantástica: Voluntariado!"

Na realidade, sempre me fascinou o trabalho de voluntariado. Numa quase esquizofrénica apetência eu acho-me capaz de dar muito afecto e incapaz de suportar os dramas das pessoas. Trabalhar com a população que trabalho fez-me perceber que é possível dar de mim sem embarcar, por empatia, no drama da história da pessoa a quem me dou.

Sinto-me, pois, com coragem, ao olhar para a oitava uva passa, para programar férias de voluntariado num qualquer país africano ou então ajudar instituições que, neste país de pobreza encapotada, dão de si promovendo melhores momentos a quem tanto e de forma envergonhada sofre.

7ª A repetida sensação: "Tenho tanto na minha vida e já consegui tanta coisa que mais vale comer de uma vez as restantes uvas passa desejando que o simbolismo da abundância se converta em efectiva plenitude de  alegrias, de saúde e sucesso durante o ano que vai começa agora!

Foram estas as minhas sensações do 31 de Dezembro.

O virar do minuto é sempre um momento mágico, de coloridos feitiços e doces venenos licorosos...

BOM ANO 2010 a todos...