sexta-feira, 12 de março de 2010

A transparência de aquário....

“Foi assim que interpretei. Sugere-me uma reconciliação, ainda que fortuita, efémera.” Ao que retorqui: “Nada disso. É um texto ficcionado. Engraçada essa tua primeira impressão do texto…”


Esta forma cibernáutica de “comunicação” tem um quê de interessante ao mesmo tempo que lhe vislumbro a fragilidade da ausência física.

Não há palavra, por mais rica, rebuscada, literária, estilística ou metafórica, capaz de substituir o manancial emotivo de uma expressão facial, de um som, de um gesto.

Contudo, a evolução dos tempos ditou que as amizades forçadas a serem à distância podem manter-se activas e presentes por virtualidade dessa tal forma cibernáutica. Assim, nos amigos distantes que quero presentes, lá vou trocando mails, frases nos canais de conversação ou, mais recentemente, nas redes sociais. Os tempos e a falta deles até já preteriram o “moderno” telemóvel…

Foi precisamente numa dessas conversas de net, com um bom e velho amigo, distante apenas pela força centrífuga das rotinas, que me surgiu o mote para a reflexão: afinal a transparência que muitas das vezes julgamos ser(mos) mais não é do que o vidro de um aquário em que nos deixamos ver sem saber como estamos a ser vistos. Mais: presumimos (e não abdicamos) que os outros só nos podem ver tal qual nos queremos apresentar. Afinal não é essa a essência da transparência?! …

Hoje percebi que não é assim. Claro que esta reflexão assenta neste episódio concreto da conversa com o meu amigo Nuninho mas deve ganhar uma dimensão extrapolada para um contexto de generalidade.

Um blog é um espaço neutro, inócuo, vazio. Molda-se às pretensões dos seus autores e veste-se à medida suas das finalidades e propósitos. Vemos na dita “blogosfera” uma panóplia pluriforme e pluricolor de espaços que sendo, muitas das vezes de foro individual, assumem pois uma exposição incomensuravelmente pública. Quantas e tantas das vezes, numa espécie de paradoxo existencial, os autores mostram ao Mundo precisamente o seu mais secreto e íntimo mundo garantidos que se encontram pelo anonimato de alcunhas, nicknames e perfis falseados…

Outras quase tantas vezes, vemos blogs de cariz informativo, político, manifestações de cidadania, meros diários, pontos de encontro, divulgações…

O meu blog serviu-me no propósito de divagar…

Sou assumida e confessadamente uma divagante nata. Daí a criar um blog onde pudesse dar largas à divagação foi um passo tímido e em muito dado por instigação de uma adorável amiga que, na coerência de me achar a personificação da hiperbolização na perspectiva da vida, vislumbrou um blog como o complemento perfeito dessa minha faceta.

Blog criado, blog publicitado aos amigos mais íntimos. Daí que o anonimato da Feiticeira esteja, em parte, e numa adorável parte, precludido, afastado, comprometido…

Textos postados, textos comentados no espaço próprio e até em conversas de café, restaurante e telefonemas entre mim, a Feiticeira, e os meus leitores amigos identificados…

Mais inspirada, menos inspirada, lá venho divagando.

As minhas divagações têm assentado, invariavelmente, em episódios reais. Admito que a minha escrita (divagação) flui melhor se despoletada por um acontecimento real. Recordo-me aqui da minha “obra-menina-dos-meus-olhos”, Diário de Uma Despedida de Solteira, que tanto prazer me deu (fundamentalmente por ser um presente para a Monique, a minha querida Monique).

Mas, prevendo um eventual período de escassez de factos-mote, recentemente equacionei a possibilidade de escrever (divagar em) textos de pura ficção. Tarefa, à primeira análise, hercúlea já que não me sinto com capacidade criativa sem referência a casos concretos. Mas como também sou “tinhosa”, teimosa, caprichosa (costelas de Escorpiana), lá me iniciei no ficcionamento. Pensei numa mulher e num homem, numa relação cujos contornos ainda não sei definir e “apanhei-os” num momento dessa relação… um momento de desencontro e encontro e desencontro, de novo. E escrevi.

Atendendo ao comentário do meu amigo e que impulsionou a presente “statement”, impôs-se-me, agora, fazer a ressalva que se faz nas novelas e filmes e afins:

Dos textos de ficção aqui publicados, qualquer semelhança com a realidade, trata-se de pura coincidência não se responsabilizando a Feiticeira pelas interpretações secundárias e danos colaterais que os mesmos possam provocar nos seus leitores.

Da Feiticeira, mais real que ficção para quem efectivamente merece.....

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