terça-feira, 31 de março de 2009

Um texto de intervenção... quando um veneno é remédio

Este texto foi escrito aquando da discussão pública da despenalização do Aborto e do aborto político que foi a cobardia de passar essa decisão pelo crivo do Referendo...

Porque, de facto, estes meus últimos dias têm sido de hesitações e sentimentos menos fortes, quis relembrar ou reviver a emoção de força e intrepidez que coloquei e transborda deste texto.

Nessa revivência, trouxe a mim mesma a revitalização que precisava...

Foi um momento de veneno que, hoje, se assumiu como remédio regenerador ...


Um sorriso curado! ...


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Francamente sempre me considerei grata essencialmente a quem nos nossos passados lutou para que hoje possámos exercer plenamente os nossos direitos cívicos.

A cidadania, a participação como cidadão na organização da cidade, comporta direitos mas tem correlativos deveres. Mais do que direito à cidania, há momentos em que nos é exigido o dever de cidadania.

Somos parte de uma engrenagem e devemos ter voz activa, lutar para que sejamos ouvidos e devemos dar nosso contributo para a máquina: seja incentivando quem vai ao leme, seja criticando despotismos, cobardias, injustiças...


Tenho para mim que esta questão do Aborto é uma hipocrisia do Governo, uma cobardia... Se há coragem política para congelar salários, permitir encerramentos de fábricas, aumentar despudoramente impostos, encerrar maternidades enquanto se gastam milhões em obras megalómanas de inúteis, então deveria haver coragem para cumprir o que era programa eleitoral e agora é mote de campanha a favor do SIM...

Enfim, isso são contas de outro rosário.

Eu estou esclarecida há muito tempo.

É minha inabalável convicção de que as mulheres não devem abortar. É vida e é vida humana. Mas se elas tomarem essa decisão, intíma, dolorosa, angustiante, fragilizante, solitária, de perda, de confusão, de desespero, é humano, depois de tudo isso, deverem sujeitar-se ao vão de uma escada, à carnificina de uma qualquer habilidosa portadora de metálicos e sujos instrumentos, arrancar de si o que já assumiu como vida e conviver com o estropiamento fisico e incontornável expiação de conscicência ??!!

Ou, pelo contrário, não deve uma sociedade civilizada permitir que essa difícil decisão seja executada em condições de higiene e saúde garantidas?!!

Não é hipocrisia manter-se o epíteto de criminosa a uma mulher destas? Diz-se que os tribunais são sensíveis e não punem, apesar da lei ... mas isto faz sentido??!!!

Do ponto de vista técnico-legal é um absurdo!!! O Direito Penal pauta-se pelo princípio da subsidariedade e necessidade da pena .... Ora, se se diz que" há crime, mas atenção! nestas situações especiais não há condenação", então para quê a norma incriminadora?? Para inglês ver??! Para ser bonito? Católicamente correcto?? ... Enfim ...

Mas admito que é uma questão de convicção pessoal.

Daí que em conversas públicas, com amigos ou não amigos, com familiares ou colegas, nunca tenha ultrapassado o registo do argumento técnico-legal .... porque convicções não se discutem, luta-se por elas!


Agora o que verdadeiramente desejo é que as pessoas, os cidadãos participem. O direito ao voto, à palavra a dar, à participação, é inalienável. Foi uma conquista e tantas vezes é reduzido a um mero acto de "alimentar políticos" .... Que argumento triste!...

Votar é ser cidadão, e eu, enquanto puder, iriei sempre nem que seja para votar em branco!Não abdico da minha cidadania!!!Por isso, vote-se Sim ou Não, o importante é ir!!! É sair deste conforto amorfo do sofá e do apático e asqueroso argumento de que "o meu voto não é preciso"...

A este propósito, apetece-me partilhar este belíssimo "hino" do Luís Fernando Veríssimo...


"Esse é o mote:Vote!
Estamos todos no mesmo bote.
Vote.
Escolha o menos fracote
e vote.
Já não se votou no Lott?
Pois vote.
Não anule nem faça trote.
Vote.
Pelas barbas do Quixote,vote!
Não picote o papelote.
Vote.
Tire os nomes de um pote.
Ou do decote.
Mas vote.
Não passa na glote?Não faz mal.
Vote.
Você preferia ficar em casa ouvindo o Concerto em Dó Maior deGottfried Munthel para Orquestra, Baixo Contínuo e Fagote?
Tomando um scotch? Esquece.
Vote.
Vote em sacerdote,
Ou em hotentote.
Mas vote.
Vote em cocote. (Mas não em iscariote.)
Mas vote.
Não fique aí pensando "to be or not".Vote!
E, se no fim faltar rima, não se apague.
Sufrague."

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