Eu gosto dos dias longos.
Destes fins de tarde arrastados, numa brincadeira do dia com a noite cada um exibindo a força dos seus Astros: a Lua impondo a sua escuridão e o Sol que não quer deixar o seu trono de luz. Tudo num cenário de onde exalam já os cheiros do saudoso verão…
Hoje dediquei-me às minhas lides académicas e reencontrei-me com o meu escritório, espaço cúmplice por excelência quer pelo tempo que aqui passo, quer pelos livros que me rodeiam e que são pedaços da minha vida, quer ainda pela música que só aqui ouso ouvir, tão escondida que estou do mundo e tão exposta e a mim mesma…
Nestes fins de tarde abro as duas janelas, de par em par, permitindo que os cheiros do monte que se espraia frente ao meu prédio me invadam num desafio traquina à concentração exigida por um texto sobre direitos humanos…
Confesso: entreguei-me completamente quando resolvi buscar um chá de erva príncipe, fresco na medida exacta… afundei-me na poltrona, deixei viajar o olhar e fiz-me acompanhar de Djavan, outro cúmplice destas viagens deliciosas…
Fui, sem Tempo ou Espaço.
Numa verdadeira alienação parece que toda a minha existência física deixa de fazer sentido e seduzo-me pelos guiões da imaginação, realizados pelo soberbo Desejo, mestre das melhores filmagens das nossas vidas…
Onde estive, quem fui e quem “me recebeu” é coisa inconfessável...
Mas, uma vez regressada, e no ímpeto de aqui deixar registado um momento, um doce momento, sem que encontre qualquer razão para que me apeteça tal partilha, acabo por ver que afinal houve entregas que mais não foram do que fruto de veleidades minhas …
Feitiços adocicados....
quarta-feira, 5 de maio de 2010
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Joana,
ResponderEliminarOs teus momentos são sempre doces, deve ser do "feitiço" que lhe pões.
Como já tive ocasião de te dizer, tu, escreves maravilhosamente, e, como tal está mais que na hora de sair cá para fora um livro teu, quem sabe?... das tuas memórias!?
És brilhante, não deves desperdiçar a oportunidade da escrita.
Pensa nisso!
Beijinhos também doces da Nela
Feiticeirinha,
ResponderEliminarÉ!... Muitas das nossas entregas são apenas do domínio do nosso desejo... que nos projecta, sem pedir autorização, para a virtualidade da nossa imaginação.
É verdade!Imaginamos os nossos desejos e tentamos transformá-los na realidade que queremos agarrar com todas as nossas forças. Até que acordamos... e percebemos, como muito bem dizes(imaginas), que a nossa entrega total não resulta senão das nossas veleidades... Então, a frustração é total e difíceis os momentos que temos de passar a enfrentar sozinhas.
A revolta e a solidão invadem-nos, enquanto tentamos entender a "mudança".
No seu poema "Carta de Amor Informática" de Ana Hatherley, o sujeito poético regista estas mudanças da seguinte forma:
Poema
"Penetraste no meu coração
Como um vírus no meu
processador
vindo de lado nenhum
ofereces-me agora
o vazio da não opção
Estragaste-me o real
obrigaste-me a reinventá-lo:
Por quê?
Agora estás
no meu cemitério de textos
Já não te posso reencaminhar
Arquivei-te no lixo da
memória
Do meu pentium IV
que aliás já vendi
Troquei-o por um lap tob
mais leve
mais portátil
mais facilmente descartável."
Feiticeirinha,
É assim que eu me sinto... um objecto descartável... depois de tantas ilusões.
Bjinhos muitos, num momento em que me sinto muito "abandonada".
Joana,
ResponderEliminarVoltei para ficar.
Este poema sobre "a mulher madura" foi a Lua que me mandou. É muito lindo e importante - para nós "velhas" - já que ninguém nos liga!
Beijinhos