
Apeteceu-me este texto depois de uma conversa de fim de tarde e inspirada por este maravilhoso e delicioso nu da Tamara Lempicka, “Adão e Eva”.
… O que mais me seduz é a sedução na certeza de que os desejos nela implícitos são inconcretizaveis de imediato.
O que se vê na essência de um desejo, pelo menos naquele dito físico, sexual, é a possibilidade de satisfação imediata, no minuto ou na hora seguinte. Um olhar que despe antecipa o momento desejado de possuir um corpo nu.
O sentir o desejo provocado num homem e saber que ele nada pode fazer, falar ou tocar, dá poder e aumenta a excitação. Provocar o desejável no impossível, é maquiavelicamente excitante, e, pelo que li, enquadra-se na prática tântrica do sexo.
Pergunta-me ela, neste ponto da conversa,: “então para ti o que é um momento perfeito de sedução?”
“Simples … dizer a um homem com toda a minha linguagem corporal que quero que ele me faça dele, ele dizer-me, nos mesmos sinais, que me deseja e eu mostrar-lhe que é impossível… ali, naquele momento. Adiar a concretização de um desejo é ter poder. E isso, francamente, é libidinoso”. Mereci um comentário estranho: “os trinta anos apimentaram-te, amiga!”…
Não sei se é fiel à verdade o comentário desta minha querida confidente, mas, na verdade, a sexualidade é a parte lúdica da vida. Não que a encare como piada ou entretenimento, longe disso (aliás odeio piadinhas de cama e na cama!) mas sim como um jogo. Entusiasmamo-nos na novidade de cada patamar, mas uma vez obtida a vitória estamos sempre ávidos das armadilhas e truques que nos reserva o patamar seguinte…
Uma vez, dancei para um homem deslumbrante numa discoteca muito em voga.
Foi uma saída de grupo. Nessas saídas a parte glamourosa do grupo (entenda-se, as mulheres) iam dançar enquanto a parte séria e pé de chumbo (entenda-se, os homens) iam para junto do bar conversar ou beber, ou fumar, ou sei lá o quê (provavelmente dar azo às seduções natas que também neles reside). A música era um feitiço. Quando esta me prende eu transformo-me e entrego o corpo aos sons, à energia, à vida e esqueço-me das regras, do “dançar com regras”… Sou assim porque me acho feliz na plenitude das sensações e a música, definitivamente, liberta-me! Naquele estado de voluntária e desejada alienação apercebi-me de um homem na pista. Distinguia-se pela forma física, pela roupa discreta mas criteriosamente escolhida tão discreta tanto quanto os movimentos que imprimia ao corpo contrariando a agitação imposta pelos sons latinos da música. Eu, como sempre, estava rendida à música. Mas fitei-o. Ele sorriu-me. Há mensagens decifráveis sem margem para dúvidas. Ele desejou-me. E eu, apeteceu-me. Não esbocei um único sorriso indutor de qualquer convite, mas fiz-lhe perceber que dançava para ele. E ele sedutoramente não saiu do seu lugar, como se tivesse percebido que detesto que precipitem os momentos e, sobretudo, que me dêem por adquirida nas vontades e nas atitudes. Distantes e indómitos nos intentos. Eu dançava, ele via. Eu fitava-o, ele seguia-me nas formas, nos movimentos sem afastar o olhar.
No momento exacto em que se impunha a aproximação, apareceram na pista os homens do grupo e, entre eles, o um amigo que era o menos pé de chumbo. Instintivamente puxei-o a mim e dei a entender que seria meu nnmorado enquanto a mão passeava pelo outro lado do pescoço e descendo pelo peito, serpenteando as costas, chegou ao rabo. Não tirei os olhos do meu observador.
E, pela primeira vez, sorri-lhe, impossibilitando-lhe assim o desejo que lhe provoquei...
Feitiços desejados...