terça-feira, 27 de abril de 2010

registos...


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... Enquanto seguia firme nos passos, apesar da pesada herança das moralidades, soltei os cabelos imaginando os teus dedos neles perdidos no arrojo de um beijo.


De um beijo que me reclamaste e que, na hesitação minha, me roubaste.

Os lábios sentiram-se, reconheceram-se, sem nunca antes se terem sentido...

As línguas obedecendo aos comandos do desejo, da novidade, exploraram o inexplorável.

Não me lembro onde estivemos, que horas eram... creio mesmo que me perdi de quem éramos..

Não! Não sonhei. Éramos tu e eu, unos e um.

Depois de tantas palavras só se ouviam, no silêncio de sons, os gritos dos sentidos. O toque e o sabor eram reis. Impuseram-se no caos por ordem do Desejo há muito postergado, abafado, contido, aprisionado...

Podem os lábios sentir dor de saudade? E os cabelos crescerem como que buscando dedos ausentes? E pode a saliva ser um choro calado da língua? Haverá dormência de dedos no vazio do que se tocou?...
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segunda-feira, 26 de abril de 2010

...Hoje acordaram-me...

( Paula Rêgo, "Target Thumb". Escolhi esta pintura porque me evoca exposição, rendição )


Deambulo com um pé na luz e outro na escuridão.
Dão-me risos e sorrisos quando mereço esgares e raivas.
Sou o que não sou,
E não sou o que sou.

Mato o que não sou e esventro-me, como quem dá à luz, o que sou.
Neste limbo em que a unidade se fragmenta cultivo clandestinidades,
Perco-me ébria nas emoções, encontro-me triste nas razões.

Não mostro o que sou
E mostro o que não sou:
Mostro alegria e não sou vida,
Mostro liberdade e não sou força,
Não mostro que sou falsa na felicidade...

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O fim pelos inícios.... ou o início do fim

Hoje
Tombei!.. E assim
Jacente Minh’
Alma neste
Hiato
Temporal,
Já não sou
Ávida de
Halos
Teus. Na minha
Jovial
Ânsia de nós, a
Hidra que fomos
Trouxe-a eu tantas vezes
Jazida no silêncio contra
As
Hostilidades
(in)Trépidas
Janotamente ditas
As “Morais”...
Hirto no silêncio
Te sinto e, assim,

Ausente tu de mim, as
Horas vãs e de dor
Tenho-as sãs (pois que seco é este)
Jorro que foi de
Amor...

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Selvagem e Primitivo....

"Selvagem e primitivo..."

Mas como raio pôde ele dar como adquirido que ela quer sexo "primitivo e selvagem"?... "Atrevido" é a palavra que lhe assalta o léxico da compreensão das poucas sms que trocaram.

“Sexo primitivo e selvagem”. Deitou-se e acordou com a expressão e com a idealização em imagens dos comportamentos, dos enlaces, dos gestos de um fim-de-tarde de sexo primitivo e selvagem.

Quedou-se a observar o seu corpo enquanto a água quente disparada do chuveiro acordava cada poro da sua pele recém acordada. Normalmente, a rotina e a vulgaridade retiram a este ritual do banho a contemplação do corpo. Os minutos são escassos e o dia começa sempre a correr.

Mas não nessa manhã. Colocou no “puff” o gel de algas, cremoso e de aroma fresco e, sorrindo, transfigurou o puff e o gel em mãos e polpa de dedos e percorreu o seu corpo, molhado, quente, acordado, vivo e reactivo… (“sexo primitivo e selvagem” … mas porquê assim?) …

A partir daí, o mais banal objecto que percorresse as suas curvas acentuadas de mulher era imaginado como mãos, braços, lábios… e sorria da sua viagem conduzida pelos desejos.

Cremes e perfumes e outras fragrâncias usuais e veste-se. O vestido de malha, largo e justo nas medidas exactas, e os collants pretos de ligas não foram escolhas inocentes, inócuas, vazias de sentires. Domina ainda a força do desejo e, desta vez, o desejo de que, por arte das circunstâncias, ele lhe aparecesse no trabalho (“selvagem” encerra em si o inesperado e o incontrolável).

Saiu à rua segura de que o passeio e a estrada tinham traçado caminhos só para ela, de tal sorte que caminhar e conduzir eram gestos autómatos…

“Selvagem e primitivo”… como música que fica gravada e repetidamente surpreende a rotina…

Entregue a esse doce estado de hipnose, não poderia adivinhar o que o dia lhe reservara…

terça-feira, 20 de abril de 2010

Loucura em livro reflectida em Loucura real ... (à falta de melhor ou mais inspirado título)

Convenço-me de que, afinal, reclamar o estatuto de mulher é grito esvaído de som ou eco.

Uma vez postergada a Razão, alada no dorso do Silêncio, uma vez acordados os sentires do leito em que serenavam, danço as melodias da vida, num mundo só fantasiado pela inocência de uma criança… Tão embriagada pela novidade do momento já tantas vezes vivido, trôpega na imensidão de cores que me pintam os cenários, não vejo que estou sozinha…

Sim, sinto-me só depois do acordar...

Apesar do quanto me rodeia, do quanto me querem, do quanto preencho, há silêncios, clausuras, recolhimentos que me arrumam na Solidão, mundo onde não se percebe outra linguagem que não seja a mudez, onde o que se vê é cego, o que se sente é vão, onde o que se quer é negado…

Hoje estive assim… mas já não estou assim…

(novas leituras empurram-me para esta “Loucura”, tão intrigante quanto a de Mário Sá Carneiro… )

quarta-feira, 14 de abril de 2010

... muda...

Há autores que abraçam certos estilos literários quase labirínticos de tão dificil se torna apreender o fio condutor da trama.

Há leitores pacientes, persistentes ou até mesmo teimosos que, apesar do tédio ou incompreensão inicial, não desistem. Umas vezes movidos pela avidez da literatura, bem avaliando que qualquer livro merece ser lido, outras pela presunção de que se trata de um autor nas bocas do mundo e -querendo ser intelectualmente valorizado pela escolha literária- lá insiste, apesar do tédio e da incompreensão.

Ora António Lobo Antunes é um autor difícil.
Rendo-me às crónicas dele na Revista Visão, (claro que já me tinha rendido seu charme de sessentão de olho azul mar... mas isso são contas de outro rosário). Aconteceu-me, porém, que, enlevada pela magia do título "Um dia hei-de amar uma pedra" iniciei-me na leitura deste autor contemporâneo, uma vez que nada dele ainda tinha lido. Confesso que não consegui sair das primeiras cinco, seis páginas... Está lá para outro dia ou para outro estado emocional mais empático já que acredito que os livros, tal como as pessoas, ou me cativam à primeira ou então adivinha-se luta morosa...

Tudo para dizer que Lobo Antunes me merece uma leitura com outra disposição. E merece por duas razões, sem qualquer ordem de prioridade entre elas. Merece então porque, de facto, as crónicas dele são deliciosas e merece porque li algures esta citação retirada do romance "A ordem natural das coisas":


"Amo-te com a infinita, extasiada piedade da paixão, amo-te quando suas no teu sono e eu bebo cada gota de ti percorrendo-te poro a poro com a avidez da língua."

Sem palavras... já que estas me emudeceram...

Beijos enfeitiçados por um certo Lobo...

domingo, 11 de abril de 2010

... a ânsia do Verão..

... Já aqui me mostrei como absolutamente rendida ao mar...

Hoje o estado de rendição foi tal que me deixei abraçar pelo Sol (meu Rei Astro) enquanto caminhava em passos firmes e ao som das música do Ipod ...

... Esqueci-me do bronzeador, coloquei a roupa de treino adequada ao calor que fazia e segui tendo como companheiros o mar e o sol....

... caminhei cerca de uma hora e trinta minutos num percurso de 8 Km esforço compensado pelo horizonte quando finalmente me deitei na areia...

De facto, foi uma caminhada deliciosa ... mas o Sol entrou na pele e agarrou-se a mim, num gesto de avidez pelas saudades ... E lá fui comprar a loção after-sun calmante ....

Senti o Verão, finalmente!!! .... )))

Beijos e feitiços estivais ...

quarta-feira, 7 de abril de 2010

( textos do meu baú... este mantém-se tão actual nas emoções que espelha)

Estou no termo do meu ano de 30º aniversário. Presumo, pela ordem natural da vida, que ainda me faltem uns bons anos para andar por cá a azucrinar e a mimar quem se cruza e faz parte do meu caminho mas, daqueles que já vivi, este último primou pelas lições de vida.

Recordo-me agora que há um ano, no pueril desejo a pedir ao som de estridentes e sentidas palmas e enquanto se apagam velas orgulhosamente embandeiradas em lascas de chocolate, sorri-me interiormente e pensei nos presentes do Presente.

Senti-me plena. Madura. Mulher. Pela primeira vez na minha vida me senti assim.

Poucas semanas depois desenrolou-se a aula da vida. Entre uma gravíssima doença de alguém que me é muito querido e outras coisas que, apesar de minimizadas por esse facto, não deixaram de me trazer novas vivências, percebi o quão tontos somos quando fazemos planos para a vida esquecendo de viver os planos que a vida tem para nós.


Numa sequência quase de película cinematográfica, os factos foram sucedendo, encadeados, com sentido e numa espécie de “antes, durante e depois”, de “cabeça, tronco e membros”, de “princípio, meio e fim” (no caso, “feliz”).


Por tudo isso, e olhando para trás, vejo-me como uma estante de livros desejados, comprados, oferecidos, impostos por formação, emprestados e, por isso, temporários, uns de lombadas gordas outros mais elegantes, coloridos, garridos, discretos.

Factos da minha vida comparados a livros!...

Livros que li e devorei cada página.

Livros que comecei e não me entusiasmei.

Livros aos quais me rendi e nessa rendição os releio e descubro uma nova palavra, uma nova frase.

Livros para os quais não estava preparada como pessoa.

Livros que ainda não li apesar das insistentes críticas favoráveis.

Livros que se identificam comigo mas que ainda não houve tempo para com eles viajar.

Livros que apenas foram interessantes no texto de contra-capa.

Livros marcantes, decorados nas frases, nas personagens que tatuei em mim.

Livros desejados mas proibidos.Tentadores na leitura, despertadores de vontades conhecidas mas de destinos desconhecidos. Destes, alguns nunca abertos mas outros lidos no prólogo e de imediato protelados para outros lugares e momentos de leitura livre, desprendida...

Sim, apesar de tudo e por tudo, continuo a sentir-me uma mulher plena no livros lidos e no desejo de ler os que ainda me aguardam na estante da Vida...

Beijos...