terça-feira, 31 de março de 2009

Os elementos da Natureza e Os meus Eus...


Invejo a Água na sua liquidez, estados cristalizados, fluidez e penetração nos espaços improváveis...

Invejo o Fogo nas cores, no calor, no paradoxo de cura e destruição...

Invejo a Terra na eterna renovação, no seu ventre de seres vivos, nos cheiros que exala ao receber a chuva...

Invejo o Ar na invisibilidade, na força dos ventos que oculta, na dança que imprime às folhas ou outros entes leves...


E nesta inveja dos elementos, sentida na dualidade do meu Eu, acabo por me invejar...


Sou (também) Água porque penetrei em almas impenetráveis e aí me cristalizei,

Sou (também) Fogo porque me curo e me destruo na ambivalência das emoções,

Sou (também) Terra porque me renovo a cada reverso e sou ventre de vida,

Sou (também) Ar porque oculto ventos destemidos e enleio almas numa dança feitiço...


... Afinal, é na natureza de mim, do meu Eu, que me vejo: ... Uma mulher

Um texto de intervenção... quando um veneno é remédio

Este texto foi escrito aquando da discussão pública da despenalização do Aborto e do aborto político que foi a cobardia de passar essa decisão pelo crivo do Referendo...

Porque, de facto, estes meus últimos dias têm sido de hesitações e sentimentos menos fortes, quis relembrar ou reviver a emoção de força e intrepidez que coloquei e transborda deste texto.

Nessa revivência, trouxe a mim mesma a revitalização que precisava...

Foi um momento de veneno que, hoje, se assumiu como remédio regenerador ...


Um sorriso curado! ...


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Francamente sempre me considerei grata essencialmente a quem nos nossos passados lutou para que hoje possámos exercer plenamente os nossos direitos cívicos.

A cidadania, a participação como cidadão na organização da cidade, comporta direitos mas tem correlativos deveres. Mais do que direito à cidania, há momentos em que nos é exigido o dever de cidadania.

Somos parte de uma engrenagem e devemos ter voz activa, lutar para que sejamos ouvidos e devemos dar nosso contributo para a máquina: seja incentivando quem vai ao leme, seja criticando despotismos, cobardias, injustiças...


Tenho para mim que esta questão do Aborto é uma hipocrisia do Governo, uma cobardia... Se há coragem política para congelar salários, permitir encerramentos de fábricas, aumentar despudoramente impostos, encerrar maternidades enquanto se gastam milhões em obras megalómanas de inúteis, então deveria haver coragem para cumprir o que era programa eleitoral e agora é mote de campanha a favor do SIM...

Enfim, isso são contas de outro rosário.

Eu estou esclarecida há muito tempo.

É minha inabalável convicção de que as mulheres não devem abortar. É vida e é vida humana. Mas se elas tomarem essa decisão, intíma, dolorosa, angustiante, fragilizante, solitária, de perda, de confusão, de desespero, é humano, depois de tudo isso, deverem sujeitar-se ao vão de uma escada, à carnificina de uma qualquer habilidosa portadora de metálicos e sujos instrumentos, arrancar de si o que já assumiu como vida e conviver com o estropiamento fisico e incontornável expiação de conscicência ??!!

Ou, pelo contrário, não deve uma sociedade civilizada permitir que essa difícil decisão seja executada em condições de higiene e saúde garantidas?!!

Não é hipocrisia manter-se o epíteto de criminosa a uma mulher destas? Diz-se que os tribunais são sensíveis e não punem, apesar da lei ... mas isto faz sentido??!!!

Do ponto de vista técnico-legal é um absurdo!!! O Direito Penal pauta-se pelo princípio da subsidariedade e necessidade da pena .... Ora, se se diz que" há crime, mas atenção! nestas situações especiais não há condenação", então para quê a norma incriminadora?? Para inglês ver??! Para ser bonito? Católicamente correcto?? ... Enfim ...

Mas admito que é uma questão de convicção pessoal.

Daí que em conversas públicas, com amigos ou não amigos, com familiares ou colegas, nunca tenha ultrapassado o registo do argumento técnico-legal .... porque convicções não se discutem, luta-se por elas!


Agora o que verdadeiramente desejo é que as pessoas, os cidadãos participem. O direito ao voto, à palavra a dar, à participação, é inalienável. Foi uma conquista e tantas vezes é reduzido a um mero acto de "alimentar políticos" .... Que argumento triste!...

Votar é ser cidadão, e eu, enquanto puder, iriei sempre nem que seja para votar em branco!Não abdico da minha cidadania!!!Por isso, vote-se Sim ou Não, o importante é ir!!! É sair deste conforto amorfo do sofá e do apático e asqueroso argumento de que "o meu voto não é preciso"...

A este propósito, apetece-me partilhar este belíssimo "hino" do Luís Fernando Veríssimo...


"Esse é o mote:Vote!
Estamos todos no mesmo bote.
Vote.
Escolha o menos fracote
e vote.
Já não se votou no Lott?
Pois vote.
Não anule nem faça trote.
Vote.
Pelas barbas do Quixote,vote!
Não picote o papelote.
Vote.
Tire os nomes de um pote.
Ou do decote.
Mas vote.
Não passa na glote?Não faz mal.
Vote.
Você preferia ficar em casa ouvindo o Concerto em Dó Maior deGottfried Munthel para Orquestra, Baixo Contínuo e Fagote?
Tomando um scotch? Esquece.
Vote.
Vote em sacerdote,
Ou em hotentote.
Mas vote.
Vote em cocote. (Mas não em iscariote.)
Mas vote.
Não fique aí pensando "to be or not".Vote!
E, se no fim faltar rima, não se apague.
Sufrague."

sexta-feira, 27 de março de 2009

Feitiços da Amizade...

Hoje é um dia a que costumo chamar de "dia Fénix" invocando assim a história mitológica daquela que renasce das cinzas...

Há dias em que as emoções são como que consumidas num fogo tal que julgamos devastador a ponto de nada mais se poder reconstruir ou recuperar.

É nessa patética incredulidade, a que muitas vezes me entrego, que brotam pequenos apontamentos de esperança. Gestos, palavras, presenças que, donas de uma força quase hérculea, me resgatam e me rendem ao intímo recolhimento da escrita, restando apenas a capacidade de partilhar este belíssimo texto de Vinicius de Moraes:

" Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles. A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objecto dela se divida em outros afectos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.
E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências...
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.
Muitos deles estão lendo esta crónica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro embora não declare e não os procure.E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo. Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer...
Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!

A gente não faz amigos, reconhece-os."

Assim, obrigada pelos comentários e pela força...

E sem distinguir, mas querendo reconhecer, deixo um feitiço muito terno a uma amizade muito especial... A ti: Obrigada...

Beijos endiabrados

terça-feira, 24 de março de 2009

Em mim a imaginação impera...


Uma imagem é traiçoeira.
Se, por um lado, vale por mil palavras, lugar comum para significar que a descrição literária fica postergada ante plenitude de significação transmitida pela imagem, a verdade é que a imagem também cerceia a nossa imaginação ao dar-nos como adquirido o que se quis mostrar.
Ainda assim, acho que a imaginação é, por definição, insusceptível de grilhões...
Por exemplo, esta pintura, "Nude Woman Asleep", de William Etty, um pintor inglês do Século XIX, diz-nos muito, ou melhor, mostra-nos muito. Uma mulher dormindo, nua, de formas acentuadas, cabelos castanhos. Há um lençol ou um pano branco ... e ela jaz no que parece ser um tronco de árvore ...
Mas ... porque dorme esta mulher num tronco? Será um sono de rendição após um acto de amor, atendendo a que está ruborizada? Há quanto tempo dorme? E o lençol, qual a finalidade da sua existência? E quem a pinta é amante? Ou um vil ladrão de momentos intímos? Será ela uma prostituta ou uma mulher de convenções mas despida delas na intimidade? E quando acordou? Entregou-se de novo? Assustou-se com o pintor? Terá sido vítima de chantagem? ...
Do adquirido partimos para o mundo da incógnita, da delícia que é questionarmos o que se nos apresenta como dado. É nesse questionar, nesse indagar, nessa procura que crescemos e sentimos a vida...
Hoje apeteceu-me isto ...
Beijos enfeitiçados...

sexta-feira, 20 de março de 2009

Receita da Poção "Como iniciar um blog"

Para a Base:
Litros de chá e água ( para quem está em dieta) ou Litros de caipirinha
1 Sentimento de que a escrita faz bem
1 Relato das peripécias de uma Co-Organização da despedida de solteira de uma amiga colossal
Muito Apreço manifestado pela Noiva e por outras pessoas amigas
Uma pitada de "Mania que se sabe escrever"
Outra pitada de "Mania que se tem alguma coisa para dizer"
Para o Título:
1 data de nascimento coincidente com o Dia das Bruxas
1 vida de afectos ("remédios") dados
Uma pitada de uns quantos venenos destilados no auge de um mau-feitio adorável
1 Sentido de oportunidade para a criatividade: último livro lido: "Venenos de Deus e Remédios do Diabo"


Tudo bem misturado e maturado e fermentado, coloca-se num impulso de arrojo, devidamente untado de "Conversa com uma certa Amiga que vos chama constantemente de «Postal» ou «Croma»", leva-se ao desespero de um servidor de Blogs e, 300 mil horas depois:

VOILÁ! Uma maravilhosa poção para iniciar um blog...
Espero que tenha saído bem e que esta Poção seja uma celebração das coisas boas da vida!
Beijos com feitiços